<strong>O JOGO - 35 ANOS || 1985 || A VÉNIA DE FERNANDO GOMES</strong> - No ano de fundação de O JOGO, foi destaque a segunda Bota de Ouro europeia ganha pelo histórico goleador portista. Hoje, recorda a "Torre de Belém" que detetou e ajudou a formar grande nomes do FC Porto
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Aos 14 anos, Fernando Gomes acompanhou um amigo aos treinos de captação do FC Porto. O homem alto que lá encontrou era um monstro do futebol nativo chamado António Feliciano, uma das míticas "Torres de Belém" corresponsáveis pelo único título de campeão do Belenenses, em 1946.
Foi o responsável pelos anos de ouro da formação no FC Porto
Nesse mesmo ano, o jornal francês "L'Équipe" escrevia que Portugal tinha "um dos melhores defesas centrais da Europa". Já Feliciano dizia que as "Torres" eram "um bluff", porque a bola mal chegava à defesa do Belenenses e, quando acontecia, "era só devolvê-la".
Treinador e coordenador da formação portista (chegou a ser técnico da equipa principal por pouco tempo), Feliciano fixou o miúdo Gomes - que não tinha idade para jogar nos juvenis, a categoria de base na altura - e já não o deixou ir embora: "Aguentei-o, mesmo não jogando". Três anos depois, aos 17, Fernando Gomes explodia nos seniores do FC Porto, encabeçando, como a joia da coroa, uma longa fileira de êxitos de Feliciano que estiveram na base da afirmação portista dos finais dos anos 1970, início dos anos 1980.
"O dedo dele esteve em jogadores como Pavão, Rodolfo, Oliveira, João Pinto...", sublinha o bibota de ouro. "Foi ele quem me descobriu. Era um apaixonado. Se hoje os pilares do FC Porto são o rigor, a competência, a paixão e a ambição, deve-se ao sr. Feliciano".
A vénia de Fernando Gomes (1985) é a António Feliciano
Nascido na Covilhã, em 1922, chegou às Antas na década de sessenta e por lá se manteve, com uma breve interrupção no União de Lamas pelo meio. Várias vezes campeão de juniores e juvenis, recusou a seleção nacional de juniores para renovar contrato pelos dragões ("tinha pena de sair") e participou ativamente nos ataques ao centralismo.
Não entendia como podia "um campeão incontestado ter só um jogador na seleção", nem a predominância de atletas do sul na equipa nacional, "quando o futebol júnior do norte está uns furos acima". António Feliciano, responsável pelos anos de ouro da formação no FC Porto, faleceu aos 88 anos, em 2010. Foi cremado e as cinzas espalhadas no Campo da Constituição.