<strong>O JOGO - 35 ANOS || 1989 || A VÉNIA DE CARLOS QUEIROZ</strong> - O futebol português no seu pico com a primeira vitória num Mundial sub-20. Queiroz foi o selecionador e precursor da mudança. Uma das figuras dos 35 anos de O JOGO, Carlos Queiroz homenageia o o pai, de 93 anos.
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A história de Carlos Queiroz está eternamente ligada ao futebol português e é sobejamente conhecida, mas atrás do antigo selecionador nacional sempre esteve o pai, Júlio Queiroz, antigo avançado do Ferroviário de Nampula.
"Sempre achou que o futebol e os estudos tinham obrigatoriamente de ser compatíveis"
O atual responsável pela seleção da Colômbia admite que a relação que sempre teve com o pai é muito forte e baseada na amizade. Por isso, gosta de tratar o progenitor por Júlio ou Julinho. Em troca, e igualmente num gesto de enorme cumplicidade, o antigo avançado, atualmente com 93 anos, trata o filho por Don Carlos.
Convidado a revelar a figura mais importante na sua vida, o treinador bicampeão do Mundo de Sub-20 aceitou o repto de imediato, aproveitando para homenagear o homem que o incentivou a ser jogador de futebol e, mais tarde, treinador e selecionador. "Vou falar de uma figura que ninguém conhece, mas que é muito importante para mim. Foi a minha fonte de inspiração, motivação e de confiança em toda a minha vida no futebol. Como ele está vivo e tem 93 anos, e acho justo falar de uma coisa que nunca falei em toda a minha vida, porque levo uma vida recatada e privada, mas agora, e porque O JOGO me dá essa oportunidade, apetece-me fazer uma homenagem ao jogador de futebol, que foi avançado, ponta de lança, e que chegou a jogar pela seleção de Moçambique que foi nomeada para representar Portugal num jogo contra a África do Sul", começou por revelar o selecionador da Colômbia.
Embalado na homenagem ao pai, Carlos Queiroz nem deu espaço a interrupções. "Esse senhor, esse treinador e esse jogador que teve uma internacionalização ao lado de grandes figuras do futebol português, foi a fonte de inspiração, de motivação e de confiança que guiou a minha vida pessoal e profissional, mas também responsável pela minha paixão pelo futebol. Esse ponta de lança de seu nome Júlio Queiroz, meu pai. Faço também uma homenagem aos jogadores com quem ele jogou: Juca, Costa Pereira, Matateu, Fernando Lage, Vicente, Hilário, enfim, toda uma enorme geração de jogadores que jogaram em Moçambique e outros que depois estiveram no futebol português e que tornaram grande o nome de Portugal", destacou.
Amante de futebol, Júlio Queiroz transmitiu princípios ao filho
Apesar de poucas vezes falar da sua vida privada, Carlos Queiroz abriu o coração para recordar a família. "Na minha vida, o Júlio teve uma postura diferente em relação à minha mãe. A minha mãe tinha uma ideia que, quando eu não tinha boas notas na escola, não ir aos treinos do futebol, era uma forma de me incentivar a ser melhor estudante. O meu pai, ao contrário, sempre achou que o futebol e os estudos tinham obrigatoriamente de ser compatíveis", contou, deixando bem claro que o senhor Júlio não dizia amém a tudo. "A sua postura era mais radical quando eu queria ir a um baile. Sempre me encostou à parede e dizia: "ou vais ao baile ou jogas futebol".
Amante de futebol, Júlio Queiroz transmitiu princípios ao filho. "Passou-me uma frase que me acompanhou toda a minha vida: "nunca mintas ao futebol, ao jogo"", revelou Carlos Queiroz, acrescentando: "Esta é uma homenagem a um avançado, o Júlio Queiroz, meu pai, responsável por aquilo que sou, sempre fui e que, se Deus quiser, hei de ser sempre. Ele melhor do que ninguém esteve sempre comigo nas horas difíceis. Naqueles momentos em que o futebol é menos bom, porque o futebol não é uma linha reta, é uma linha de altos e baixos, e esse ombro e essa inspiração foi aquilo que me guiou durante toda a minha vida. Termino esta homenagem com uma frase muito simples, mas de grande significado: muito obrigado, Júlio".