Aos 34 anos, o corpo da esquiadora norte-americana não aguenta mais corridas loucas na neve. Vários ossos partidos, nervos danificados e ligamentos estraçalhados depois, anunciou que se retira após os mundiais da Suécia. Ficará a poucas vitórias de ser a melhor de todos os tempos, mas os pares acreditam que já é.
Corpo do artigo
Ironia: o corpo espantoso que faz de Lindsey Vonn um nome tão apetecido no mundo da publicidade é o elo mais fraco da esquiadora norte-americana; aos 34 anos, está irremediavelmente danificado, incapaz de acompanhar a ambição dela nas pistas de neve. Foi a própria quem o anunciou, na sexta-feira, 1 de fevereiro, nas redes sociais. É um adeus contrariado de quem sempre fez questão de desafiar os próprios limites, sobretudo os que sucessivas lesões lhe impuseram. Essa teimosia rendeu-se, a poucos dias dos mundiais da Suécia, onde estará pela última vez em prova, em downhill e super-G.
Esta é uma história que só pode mesmo ser contada na primeira pessoa. "Estou a debater-me com a realidade do que o meu corpo está a dizer-me versus aquilo de que no meu espírito e no meu coração me sinto capaz. A triste realidade é que o meu corpo e a minha alma não estão em sintonia. Depois de muitas noites sem dormir, aceitei que não posso continuar a fazer provas de esqui", escreveu Lindsey Vonn, nas redes sociais. "O meu corpo está danificado sem conserto e não me deixa ter uma última época como sonhei. O meu corpo grita-me que pare e é tempo de o ouvir", resume, depois de contar o sofrimento que as lesões lhe têm imposto, até as perceber como incapacitantes para continuar a fazer aquilo de que mais gosta e como gosta.
"Honestamente, retirar-me não é o que me aborrece. Retirar-me sem atingir o meu objetivo é o que ficará comigo para sempre. No entanto, posso sempre recordar 82 vitórias em taças do mundo com 20 títulos, três medalhas olímpicas, sete mundiais e dizer que consegui o que nenhuma outra mulher na história alguma vez conseguiu, e isso é algo de que sempre me orgulharei. Então, por favor, deixem que a minha história seja de resistência, vitórias e até lesões, mas não a contem por falhanços ou objetivos por atingir", pede, numa alusão ao título que ficou por conquistar. Esta era a temporada em que se esperava que Lindsey Vonn assegurasse a confirmação matemática de melhor atleta de esqui de todos os tempos. À frente dela existe apenas um nome, o do sueco Ingemar Stenmark, atualmente com 62 anos, que em 1989 se retirou com 86 vitórias nos mundiais. Tão perto de ser a melhor de sempre na modalidade, para lá do género feminino, Lindsey Vonn despede-se com o respeito dos pares que, citados pelo The New York Times, vêem para lá da questão dos números: para eles, ela é a melhor de todos os tempos e a mais ousada, também. Despede-se com um currículo louco de descidas vertiginosas, vitórias, lesões arrepiantes e uma tremenda paixão pelo esqui. "Digo sempre: nunca desistas! (...) Tenho de vos dizer que não estou a desistir. Estou só a começar um novo capítulo", prometeu Lindsey, obviamente ansiosa por essas provas que ainda lhe restam para saborear.