Mulher da semana: Maca Sánchez, a adepta de Frida Khalo que ameaça mudar o futebol argentino
Na Argentina, não há futebol feminino profissional. Ou antes, ele existe, mas escondido sob contratos feitos a pretexto de outras atividades. Agora, uma mulher quer ver legalmente reconhecida a relação laboral. Oitenta anos depois, é o princípio de uma batalha legal idêntica à que os homens travaram.
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Um dia, talvez exista na Argentina um provérbio a aconselhar: nunca te metas com uma mulher que tem o retrato de Frida Khalo tatuado num braço. Sobretudo, se ela tiver uma boa equipa de advogados a apoiá-la. A candidata a vincar essa ideia é Maca Sánchez, futebolista profissional, talvez não por muito mais tempo. Ela sabe que a carreira no país de origem pode ter acabado, aos 27 anos, e não se importa com o previsível boicote por parte dos clubes locais. Em rigor, a história dela dentro dos relvados arrisca o ponto final prematuro desde segunda-feira, 21 de janeiro, quando fez saber que não abdica de ver legalmente reconhecida a relação laboral com o Club Deportivo UAI Urquiza e deu início ao que promete ser uma batalha jurídica histórica pelo reconhecimento do estatuto de futebolista profissional para as mulheres.
Macarena Sánchez foi despedida a 5 de janeiro. Despedida de uma função que desempenhou durante sete anos no clube e que não lhe é reconhecida na Argentina. A pátria de Deus, segundo Maradona (a mão Dele na Terra), fecha os olhos ao profissionalismo no futebol feminino, mas isso pode estar em vias de mudar. A meio da época, a avançada viu-se forçada a pelo menos meio ano de desemprego, porque as regras não lhe permitem outra inscrição. Então, suportada por uma firma de advogados que apoia as causas feministas e já com o apoio da FIFPRO, a Federação Internacional das Associações de Futebolistas Profissionais, decidiu que é tempo de alterar as regras. Não as que lhe recusam novo contrato, mas as que não a reconhecem o estatuto de futebolista profissional e deixam todas as companheiras de profissão de Maca Sánchez reféns de contratos fraudulentos, geralmente, associados a funções em empresas de pessoas ligadas aos clubes.
O que está em causa nem é uma verba significativa, segundo a FIFPro. É mesmo a determinação de clarificar o jogo. Nesse sentido, foi enviada uma notificação extrajudicial a solicitar ao clube a legalização da situação profissional da atleta, bem como o fim da "inação" federativa perante esta prática reiterada. Os advogados solicitaram também à federação Argentina que notifique o UAI Urquiza nesse sentido. Como nenhuma das instituições respondeu, terminado o prazo legal, o passo seguinte será a conciliação obrigatória, de acordo com a legislação laboral.
No documento que tornou pública esta ação, recorda-se que, na década de 1930, a Argentina assistiu a um processo idêntico no futebol profissional masculino, com "incontáveis lutas no caminho" que, oito décadas depois, começa a ser percorrido por Maca Sánchez, avançada e feminista, adepta de Frida Khalo, a pintora mexicana que escreveu numa aguarela de 1953: "Pies para qué los quiero si tengo alas para volar". Macarena Sánchez tem bons pés; até está disposta a abdicar deles, mas não das asas para o futebol profissional feminino.