A MULHER DA SEMANA - Ticha Penicheiro: de menina "sem nada de especial" a Hall of Famer
A melhor basquetebolista portuguesa de todos os tempos integra a classe de 2019 do Women's Basketball Hall of Fame, sendo reconhecida como uma das que mais contribuiu para o desenvolvimento da modalidade no feminino, em campo e fora dele
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A partir de 8 junho, o nome Patrícia Nunes Penicheiro, mais conhecida como Ticha (44 anos), vai figurar na galeria do Women's Basketball Hall of Fame, localizado em Knoxville, no Tennessee, como tendo sido uma das que mais contribuiu para o desenvolvimento do seu desporto no feminino. A melhor basquetebolista lusa de todos os tempos, retirada desde 2012, ficou esta semana a saber que integra a classe de 2019 deste "corredor da fama", em mais um feito notável para alguém que teve um percurso sem paralelo em Portugal, país que nunca teve um atleta na NBA e onde a modalidade está longe de ser dominadora.
"Surreal" foi a palavra mais usada pela antiga jogadora portuguesa - também tem cidadania norte-americana desde 2013 - nas diversas reações a este grande momento. E não é caso para menos se se olhar para tudo o que alcançou desde que embarcou no sonho americano, em 1994, para jogar na Universidade de Old Dominion.
Até essa altura, Ticha já contou em diversas entrevistas que "era uma menina da Figueira da Foz sem nada de especial", começando a jogar aos seis anos por influência do pai João e do irmão Paulo e sonhando alto no campo que havia perto de casa. "Tinha encontro marcado com o sofá da sala nas tardes de domingo. Era a altura de assistir ao único jogo semanal da NBA, transmitido na RTP2, comentado pelo Carlos Barroca e pelo João Coutinho. E assim que a transmissão acabava, agarrava na borracha laranja e seguia em direção a um 'playground' muito conhecido, que ficava mesmo nas traseiras de casa. Era aí que simulava os ídolos da televisão: o Michael Jordan e o Magic Johnson", escreveu num testemunho publicado na página "Borracha Laranja".
Anos mais tarde, a maior embaixadora do basquetebol nacional não só conheceu essas e outras estrelas, como o lendário jogador dos Lakers a legitimou como "Lady Magic" por ser rainha das assistências da WNBA - foi recordista durante sete anos com 2599, marca batida por Sue Bird, em 2017. Além disso, durante os 15 anos em que esteve na Liga norte-americana, sagrou-se campeã pelas Sacramento Monarchs (2005), registou quatro presenças no WNBA All-Star Game, pertenceu duas vezes à All-WNBA First Team e acabou por ser considerada uma das 20 melhores atletas dos primeiros 20 anos de existência da prova.
Mas aos números e às estatísticas, junta-se o papel ativo que Ticha, hoje agente de jogadoras, sempre teve na divulgação da modalidade e que faz questão de manter, argumento que terá tido grande peso para se tornar Hall of Famer. O seu nome surge recorrentemente associado a campos para os mais novos e atualmente é madrinha do Jr. NBA Portugal. No passado, o Comité Olímpico Internacional reconheceu-a por integrar projetos de promoção dos jovens e do papel das mulheres em Portugal e em África; foi embaixadora da WNBA em Angola, Moçambique e África do Sul, e fez até parte do lote de ex-atletas que ajudaram os Estados Unidos e Cuba a estreitar relações em 2014!