UM LIVRO POR DIA >> Feijão era um problema. Em casa a mulher reclamava a falta dele na panela, na quitanda ali bem perto, o homem, adepto do Bangu, reclamando que tinha de ir à seleção.
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Militares a mandar no Brasil, agitação social, pobreza, negreiros a vender sonhos de futebol num paraíso chamado Europa, craques caídos em desgraça. Não, este não é um retrato da atualidade brasileira. Apesar das semelhanças que se lhe possam encontrar, "Maracanã, adeus" pinta um cenário de vida em modo futebol também em tempos de angústia, uma comovente forma de ver/viver a transição da década de 1970 para a de 1980. Eram os dias da ditadura militar - instalada em 1964 e prolongada até 1985 -, de tentar fintá-la e ficar vivo. A narrativa de Edilberto Coutinho faz-nos voar, sorrir, torcer o nariz, fazer cara feia. Onze histórias diferentes, cada com um papel, alinhadas na mesma equipa. A conta certa.
Feijão era um problema. Em casa a mulher reclamava a falta dele na panela, na quitanda ali bem perto, o homem, adepto do Bangu, reclamando que tinha de ir à seleção. Jogava muito o moleque, faltava em demasia o alimento dos pobres. Rubens Feijão, esse mesmo ainda com experiências no futebol português ao serviço de Boavista, Académica e Ovarense, já no pôr do sol da carreira, não sonhava sequer ter sido personagem de livro. Ao saber abriu um enorme sorriso de menino. Um menino igual a tantos outros com jeito para bola a quem mercadores de escravos, negreiros do século XX, aliciavam com promessas.
A viagem passa pela entrevista de Elza Soares, a cantora de "A Bossa Negra", paixão incontrolável de seu Mané Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas, mas já só na versão cachaceiro empedernido, placado por uma cirrose.