UM LIVRO POR DIA >> Afinal, explica, um filme, por exemplo, não nos pode dar cabo da vida, mas um jogo sim. Lá está, o futebol é uma coisa perigosa.
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Álvaro Magalhães é cá da casa e quem o lê nas páginas de O JOGO já sabe da forma apaixonada como olha para o desporto-rei. É sobre essa paixão que escreve em "História Natural do Futebol", um livro sobre as origens do jogo, claro, sobre a sua evolução ao longo dos tempos, também, mas, muito mais do que isso, sobre aquilo que o move e faz mover quem não lhe resiste.
Ora, tratando-se de paixão, nem tudo são rosas. Como explica o autor, quem não partilha o sentimento imagina que os adeptos vão ao futebol para se divertirem. Nada mais falso: aquilo é zona de sofrimento. O jogo, garante, é território de emoção, afeto, de instinto, de agitar essas zonas que a civilização tende a apagar. De tal maneira que nem deve ser catalogado como espetáculo, mas sim como "uma vibrante celebração de animalidade".
Afinal, explica, um filme, por exemplo, não nos pode dar cabo da vida, mas um jogo sim. Lá está, o futebol é uma coisa perigosa. O espectador acaba quando acaba o espetáculo. O adepto é-o antes e depois do jogo. De resto, para o autor, essa mesma "animalidade" ancestral caracteriza também os jogadores. Se param para pensar, podem estragar tudo.
Para o ilustrar, usa a história de Pahiño, um avançado do Real Madrid, dos anos 50, que tinha a irremediável mania de aproveitar as horas mortas dos treinos para ler. Um dia falhou e um jornalista escreveu: "Que se pode esperar de um jogador que lê Tolstoi ou Dostoievski?" Pode não parecer pelo título, mas "História Natural do Futebol" é um romance, um livro sobre a maior história de amor da humanidade. Só para apaixonados.