João Almeida fala de "ofertas milionárias": "Podia escolher a equipa que quisesse"
Em entrevista a O JOGO, João Almeida detalha a transferência milionária para a UAE Emirates e vinca o desejo de afirmação ao lado do bivencedor do Tour. Mostrando-se disponível para ser mais um homem de confiança de Tadej Pogacar, o talento português deixa claro que tem confiança e uma equipa para o ajudar a pensar no pódio das Grandes Voltas
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Todo o mundo quis João Almeida. Depois de ser quarto no Giro"2020 e sexto em 2021, na última edição mesmo estando ao serviço de Remco Evenepoel, o ciclista de A dos Francos analisa a escolha, a mudança para a equipa do bicampeão do Tour, e diz, em entrevista a O JOGO, que também vai liderar na UAE Emirates.
Aos 23 anos assinou um contrato de cinco anos com a UAE. Isso mostra que é um dos ciclistas mundiais com mais potencial?
-Começámos a contactar equipas em fevereiro ou março. Falámos com a Quick Step também. Pensei muito e gostei da mentalidade da UAE, achei que me ia sentir em família. A aposta que fizeram em mim mostra que sou uma promessa para o ciclismo. Até ficava contente com um contrato de três anos, mas quiseram deixar claro que pensam a longo prazo. Isso fez diferença.
Fez um contrato milionário. Foram aventados 7M€ em cinco anos. Era o que queria?
-Podia escolher, basicamente, a equipa que quisesse. Fiz bons resultados. Todas tinham prós e contras. Nunca pensei valer isso. Sou recente, estou no World Tour há dois anos e foi tudo muito rápido. Na primeira época só comecei em agosto devido à covid-19, discuti várias provas e o Giro"2020 foi uma machadada para me afirmar. Nunca pensei que, um ano depois, teria ofertas milionárias. Não pensei: "Vou chegar ali daqui a um ano". Havia equipas a dar mais do que a UAE, mas as propostas eram já tão altas que isso não era decisivo. Tinha equipas a darem-me mais, mas foquei-me no projeto desportivo.
A Ineos não foi hipótese?
-Tinha em Froome um ídolo e vi a vitória dele no Tour"2013. Também ponderei a Ineos, por ser das minhas equipas de sonho, mas tem muitos atletas de alto nível: Geoghegan Hart, Egan Bernal, Geraint Thomas ou Carapaz [todos vencedores de Grandes Voltas]. Seria difícil encontrar o meu espaço. A UAE era a única opção na minha cabeça.
Que lhe prometeu Joxean Matxín, diretor da UAE?
-Disse-me que iria liderar, não só em Grandes Voltas, mas também noutras corridas. Vincou o seu pensamento a longo prazo, de consolidar uma equipa ao meu redor.
Não sente que ao assinar pela equipa do bivencedor do Tour isso pode prejudicar-lhe as ambições?
-Há espaço para mim e para o Pogacar. Somos humildes, da mesma idade e gostamos de trabalhar para a equipa. Não teria problema em ir para uma Grande Volta com ele a liderar. Até gostava. Ele é um fora de série, já marcou a história e vai marcar mais ainda. Poder fazer parte da história dele seria uma honra. Ele é fortíssimo na montanha e defende-se bem nos contrarrelógios. Coloca-se extremamente bem nos ventos cruzados também. Pode conquistar cinco Tours, pode mesmo bater o recorde, mas acredito que também vá ao Giro um dia.
Como o recebeu Pogacar?
-Deu-me as boas-vindas. Quando se tornou público que eu ia para a UAE fui trocando palavras com ele nas corridas. Foi simpático, tratou-me bem. Conheço-o desde a Volta a França do Futuro que ele ganhou. Já se via que era de outro nível.
Vai ao Giro novamente. Ficou contente com o percurso?
-Fico com pena de não ter mais quilómetros de contrarrelógio [28], mas há possibilidades de fazer pódio. O contrarrelógio permite uma afinação de um ou dois lugares, mas são as montanhas a decidir as corridas.
Etna, onde agarrou a rosa em 2021, Mortirolo e Blockhaus, onde em 2017 o Dumoulin foi muito forte, são montanhas muito difíceis?
-Vai ser duro. E falta aí o Zoncolan. O Etna traz-me boas memórias. Ganhou lá o Acácio da Silva e vesti a rosa. Quero fazer igual ou melhor. Sim, identifico-me com o Dumoulin. Fez a subida a passo e não com força bruta.
"Trazer o Rúben Guerreiro seria a cereja no topo do bolo"
"Ter portugueses ajuda, sentimo-nos mais em casa", declara João Almeida, satisfeito por na UAE Emirates ter Rui Costa e os gémeos Oliveira, com os quais se cruzara na Axeon. "Não lhes disse imediatamente que ia assinar. Até me perguntaram, mas quis deixá-los na dúvida", conta, entre risos, o jovem de 23 anos, que agradece a Rúben Guerreiro a ajuda nas Voltas a Itália: "Desenvolvemos lá a nossa amizade. Estávamos na luta, cada um por si, mas incentivámo-nos. Gostava que tivesse vindo. Era a cereja no topo do bolo, mas ele sente-se bem na EF. Quem sabe no futuro."