João Almeida vai fazer o terceiro Giro da carreira e parte para as provas de três semanas a sonhar com o pódio.
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O Giro será novamente a aposta de João Almeida, mas o corredor da UAE Emirates abre a porta às outras Grandes Voltas e à vontade de fazer a Vuelta já em 2022 e o Tour em 2023.
Acha que pode chegar ao nível de Pogacar?
-É possível. Vou esforçar-me. Igualar o nível dele é difícil. Já ganhou duas Voltas a França, mas esforço-me para vencer uma Grande Volta. Não consigo prever o meu auge, mas dá para perceber que o meu pico chegará em dois ou três anos.
Não é comum um não italiano privilegiar tanto a Volta a Itália. São as melhores montanhas para si?
-Gosto de Itália, das vistas e tem as subidas mais duras do mundo. Poder dar espetáculo nessas subidas é uma honra. Gosto do Giro e o público é fervoroso e gosta de mim, pelo que vejo. Só fiz essa Grande Volta, mas vejo-me com capacidades para as outras. A Vuelta também tem subidas duras, nas mais inclinadas é difícil esconder as fraquezas quando as temos, mas o Giro ganha na dureza. O Tour é mais mediático, mais estratégico. A diferença está no ritmo.
A estreia no Tour vai ficar adiada?
-Sim. Gostava de ir lá em 2023. Sei que é impossível conciliar Giro e Tour. No ciclismo moderno é impossível estar bem nas duas na mesma época. Antes do Giro vou à UAE Tour e quero fazer um bom estágio de altitude.
E a Vuelta?
-Depende de como correr o Giro. Porque fazer duas Grandes Voltas é duro mentalmente. Mas gostava, finalmente, de a fazer.
Em sub-23 ganhou a Liège-Bastogne-Liège. Considera que tem mais capacidade para lutar por clássicas Monumento ou por provas por etapas?
-Gostava de ir a uma dessas, mas talvez depois do Giro. Tenho tempo, também. É mais difícil lutar por uma clássica Monumento. Tive bons resultados em provas de um dia, mas Monumento é mais especial. Só Lombardia e Liège se adaptam às minhas características. Sou bom no contrarrelógio e tenho sempre possibilidade de ganhar provas de uma semana se existirem subidas duras. O Tirreno-Adriático é uma das que mais gosto.
"Foi o Remco que não falou"
João Almeida foi ao Giro"2021 e ajudou o ex-colega Evenepoel até o belga desistir. O português viria a ser sexto na geral.
Estava previsto aquele ataque do Remco para somar bonificações?
-A fuga foi apanhada e estávamos bem colocados. Ele lutou pelos segundos. Todos contam. Achei normal.
No dia seguinte, acha que sofreu psicologicamente?
-Não. Falhei na alimentação e naquelas rampas inclinadas fiquei sem energia. Tínhamos de focar-nos no Remco a partir daí. Sem lamentos. Era meu colega, não um inimigo.
Foi prejudicado por ter comunicado que iria sair?
-Não me afetou sair. Aquele ambiente deu-me mais certezas da decisão. Eles apoiaram-me do princípio ao fim. Apostaram em mim e tenho a agradecer. Talvez houvesse mau ambiente na equipa; houve más decisões, de todos, não só do staff.
Rebocou o Remco, mas foi criticado na etapa 11 por não o ver em dificuldades.
-Na altura não se sabia o porquê de ele não ter ficado na frente. Se por alimentação ou falta de forma. Descolou longe da meta: iria perder bastante tempo, se calhar mais do que eu tinha perdido. Por mim, teria continuado e chegaria com o Bernal, mas pensei na equipa. Fiquei com ele e encurtei muito a distância. É normal a crítica, mas foi o Remco que tirou o rádio e não falou.