ENTREVISTA >> João Almeida enumera as proezas a que tem de chegar para ambicionar bater os registos de Joaquim Agostinho e Rui Costa. O antigo campeão do mundo é muito elogiado
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João Almeida lamenta que Portugal só tivesse duas vagas para a prova olímpica e exalta a qualidade lusa.
O que aprendeu com a corrida olímpica [foi 13.º]?
-Infelizmente, os pontos que fiz no Giro não contaram para o apuramento. Para os Jogos não pudemos levar quatro. Um país que tem mais corredores tem mais vagas porque faz mais pontos. Só pudemos levar dois. Não tinha a certeza se iria ser chamado, mas sabia que estava em boa forma. Foi a melhor preparação que tive.
Faltou-lhe força, com aqueles quilómetros todos num clima diferente?
-Senti mais a falta de ritmo. Estava confortável com as horas. Fazemos provas daquela duração. Fiquei satisfeito com a minha exibição.
"O Rui Costa foi o melhor português de todos os tempos. É um senhor. Não houve atritos com ele. Nos Jogos, não sei quem foi no lugar de quem"
Sonha ter um dia uma medalha num Mundial de estrada?
-Gostava, nos Mundiais, de chegar a uma medalha. Mas primeiro tenho o objetivo de lutar por Grandes Voltas e provas de uma semana. É especial vestir a camisola portuguesa e, na corrida de estrada, posso sonhar. É mais acessível, pois bater os contrarrelogistas puros é complicado.
Ouviu críticas por ser selecionado em detrimento do Rui Costa?
-Não sei quem foi no lugar de quem. Penso que foi uma boa opção. Fechei bem a corrida e foi um bom resultado para os meus primeiros Jogos. Enfrentei uma alta rodagem. Cheguei com falta de ritmo, mas também não havia corridas para fazer antes. No contrarrelógio não foi o que ambicionámos. Não me senti forte. A prestação considero ter sido positiva. Tenho orgulho.
Sem alimentar polémicas quanto às decisões de José Poeira, selecionador nacional que deixou o poveiro de fora da equipa olímpica, o caldense pede Rui Costa como colega para a Volta a Itália
Já disse que o Rui Costa era um ídolo, no entanto houve algum atrito com ele após a convocatória?
-Ele foi o melhor ciclista português de todos os tempos. Pelo que ganhou. De forma alguma houve atritos com ele. Foi uma altura difícil. As vagas que tínhamos não eram sinónimo da nossa qualidade. Foi ele o prejudicado. Depois das corridas é fácil falar, mas penso que na altura o selecionador fez a melhor escolha.
Vê-se com capacidade para ser o melhor ciclista português de sempre?
-Sinto que sim, que posso ser o melhor português de sempre. Tenho essa qualidade, mas há muitos fatores. Tenho um longo caminho para chegar à regularidade do Rui Costa. Fazer pódio numa Grande Volta colocar-me-ia ao nível do Agostinho. Isso punha-me na história de Portugal e do ciclismo. Ainda assim, faço uma vida normal. Corremos com capacete e óculos, nem sempre me reconhecem e não preciso desse reconhecimento. Sou, talvez, o mais falado dos ciclistas portugueses e isso dá-me responsabilidade, mas não pressão. Dá-me gozo ter trazido fãs ao ciclismo.
Joxean Matxin prometeu-lhe uma equipa forte no Giro. Quem levaria?
-Escolheria o Mikkel Bjerg, porque me dou bem com ele. O Rui Costa porque é um senhor. Tem muita experiência. Não sei se podia levar os dois gémeos, mas um levaria. O Giro é muito duro, é preciso confiar na capacidade dos colegas.