ENTREVISTA >> Mauricio Moreira foi a revelação do ano em Portugal e ficou a 10 segundos do troféu mais bonito, mas nem acreditava poder vestir a amarela da Volta a Portugal de 2021
Corpo do artigo
Chegou a Portugal como um ciclista a necessitar de resgate, depois de uma má experiência na Caja Rural, em 2018 e 2019. A Efapel, agora Glassdrive-Q8, acreditou em Mauricio Moreira e fez dele o atleta do ano no ciclismo nacional, com oito vitórias, destacando-se as conquistas do GP Douro Internacional e da Volta ao Alentejo. Caiu e perdeu a Volta a Portugal no último dia, mas a O JOGO confessa que nunca se sentiu candidato a ganhá-la.
Foi à Volta a Portugal com sete vitórias e já tendo conquistado o Douro Internacional e a Volta ao Alentejo. Sentia o peso?
-Cheguei à Volta muito tranquilo. Já tinha conseguido vitórias. Com quedas e maus momentos nos anos anteriores, já sentia que tinha sido muito bom. O meu pensamento era ser um bom gregário. Estava confiante que podia fazer qualquer trabalho para o António Carvalho e para o Frederico Figueiredo. O prólogo não iria condicionar a Volta e sabia que mesmo ficando nos primeiros isso não ia alterar o foco. Contudo, desde o início senti que estava a ser marcado, que me viam como um rival importante.
Iniciou a etapa da Torre em segundo e também chegou à meta no segundo lugar. Pensou, nesse momento, que podia ganhar a Volta?
-Quando saí a um ataque, nos últimos dois quilómetros, estava contente pelo trabalho que tinha feito. Não pensava poder ganhar. Não me via como vencedor ou líder da equipa.
Humilde em toda a linha, o uruguaio de 26 anos detalha a O JOGO uma época de triunfos, de renascimento para a modalidade e agradecimento ao nosso país e à equipa Glassdrive-Q8
Uma penalização nesse dia deixou-o em sétimo na geral. Foi justa?
-Levei a multa dos 40 segundos por abastecimento indevido. Esse golpe impediu ainda mais que pensasse no pódio. Foi um erro da minha parte e a multa foi bem aplicada. Havia dois líderes e queria trabalhar para eles. Sentia-me em dívida, queria devolver-lhes o que fizeram por mim.
Mas foi ganhando tempo e no Larouco reduzia para 50 segundos a desvantagem para Amaro Antunes.
-Sabia que era um ponto de confiança importante. Queria tirar um pouco mais de tempo e cada vez que atacava deixava outros adversários em dificuldades.
Depois de ser segundo na Torre, ganhou na Senhora da Graça. Conhecia a subida?
-Não, apenas a tinha visto na internet. Pensava que, tendo feito bem o esforço na Torre, que é mais dura, podia disputar a etapa. Quando precisei, os meus colegas ficaram para trás por mim... A cabeça virou nesse momento. Tinha de tentar ganhar a etapa, de qualquer forma. Era a forma de lhes agradecer.
Amaro manteve a amarela, mas viu-se a euforia na sua equipa. O que lhe disseram os companheiros na véspera do contrarrelógio?
-Depois da Senhora da Graça toda a equipa me dizia que acreditava que era possível recuperar o tempo [42 segundos]. Não me via como um vencedor da Volta. Nunca tinha pensado ganhá-la, nem no primeiro, nem no último dia. Acho que por isso não sofri tanto com a queda no contrarrelógio.
Mesmo caindo em Viseu, tirou 32 segundos a Amaro Antunes. Seria o vencedor sem essa queda?
-Seria especular. A corrida foi assim. Dei tudo o que tinha. Consigo ver o erro que fiz, para que no futuro não aconteça. Foi uma desgraça, mas tirei coisas boas. Entrei muito mal na curva e não tinha a necessidade de arriscar, com o tempo que estava a ganhar. Quando caí, pensei "OK, estou bem". Foi colocar-me em pé e voltar à bicicleta. Só queria recuperar o que perdera e chegar à meta.
Entrará na Volta"2022 como o maior candidato?
-Não acho. Não gosto de o dizer. Sei que posso estar entre os melhores. Vou fazer por isso, mas sempre pensando na equipa.