ENTREVISTA - Alejandro Marque vai encerrar o seu trajeto desportivo em 2022. Mais um adeus irreparável na geração galega que brilhou no pelotão nacional
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Alejandro Marque venceu a Volta a Portugal em 2013, fez terceiro em 2015 e no último verão ganhou na Torre, andou de amarelo e terminou mais uma Grandíssima no pódio. A O JOGO, o ciclista do Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel anunciou, em primeira mão, que vai encerrar o seu trajeto em Portugal, país que o acolheu há 19 anos.
Contrarrelogista que passou a ser um dos mais regulares na montanha recorda a sensação de vencer na Torre e de acreditar que podia ganhar a Volta a Portugal uma segunda vez
Em 2013 venceu a Volta a Portugal e em 2015 foi terceiro, para este ano repetir esse lugar no pódio. Esperava-o?
-Queria ajudar o Gustavo Veloso [que se despediu este ano da competição] a ganhar a Volta. Era o que o Gustavo desejava. Queria que ele estivesse no pódio, foi para isso que mudou para o Tavira. O Gustavo tem uma enorme humildade, mas era ele a prioridade. Na Torre tudo mudou, mas sentia-me respaldado. Ele estava em segundo e, se viesse a perder a Volta para ele, não ia ficar triste.
Era um contrarrelogista e foi aprendendo a subir como poucos. Esperava ganhar na Torre?
-Ganhar na Torre foi extremamente especial. O trabalho que vinha a fazer denotava evolução. Tinha estado, em anos anteriores, com o Frederico Figueiredo [agora Glassdrive-Q8], a protegê-lo, e com o Rinaldo Nocentini [retirado], igual. Fiz sempre um bom trabalho na Torre, não se pode só medir os pódios na Volta quando estás a proteger outros. Nos anos do Sporting tinha outra função. Se tens de entrar ao trabalho antes, não podes saber se conseguias discutir uma Volta. Este ano houve oportunidade, ataquei no momento certo. Foi das vitórias mais bonitas da carreira e passaram-me muitas coisas na cabeça no ponto mais alto de Portugal. São muitos anos a correr cá. Vi tantos a ganharem lá e finalmente pude senti-lo. Ganhei mais de um minuto. Aí, acreditei que podia fazer pódio e que podia ganhar a Volta.
Mas perdeu tempo importante na etapa da Guarda e Veloso magoou-se...
-Foi a etapa onde saiu tudo torcido. O Gustavo caiu ainda numa parte neutralizada, eu tive uma avaria na bicicleta... Ganharam 40 segundos num dia de adversidades. O Gustavo deu uma lição de companheirismo, estava dorido, ferido e puxou sempre. Foi um amigo que não me deixou sozinho.
Tanto no Larouco como na Sra. da Graça não conseguiu seguir na frente.
-No Larouco sofri muito logo na subida de Boticas. Puxaram e tive de ir ao meu ritmo. Se fosse aos solavancos perderia mais tempo ainda. Na Senhora da Graça faltaram-me pernas. Não tive capacidade para ir com a Efapel naquela altura, se tenho força para ir com eles podia ganhar a Volta. Nesse dia, fiquei sem abastecimento líquido entre a anterior montanha e Mondim de Basto.
Ficou a 1m18s da amarela e Mauricio Moreira era segundo, a 42 segundos de Amaro Antunes. Se esse cenário fosse consigo, poderia ganhar?
-Não creio que se estivesse a 40 segundos do Amaro pudesse recuperar a diferença no contrarrelógio de Viseu. Para andar melhor com os trepadores perdi capacidade no contrarrelógio. Subi de quinto a terceiro nesse dia e foi um grande resultado. Tenho de agradecer aos colegas, foram gigantes toda a Volta.
Tem planos para 2022?
-Há dois anos ganhei a Volta à China, renasci com a confiança que recuperei. Para o ano, espero que seja uma boa despedida do ciclismo profissional. Tenho 40 anos. Quero deixar as coisas com um bom sabor de boca. Tenho de avançar para essa decisão, sei que vou ter muitas saudades, vou sentir um vazio das corridas, mas quero estar para os meus filhos e ajudar o meu pai, que tem 71 anos, numa loja de bicicletas e de jardinagem. Devo tudo ao ciclismo português. Só podia acabar a carreira em Portugal. Quis dar o salto em outra altura, mas não estou arrependido. É um orgulho dizer que fui o ciclista espanhol com mais épocas no ciclismo português. Se me dissessem que aquele rapazito, que vinha a Portugal como amador, estaria 19 anos como profissional em Portugal, eu não acreditaria. Foi uma honra.
"Gustavo Veloso não é talismã, mas quase; dá tranquilidade"
Gustavo Veloso e Marque coincidiram na OFM e, em 2013, discutiram a amarela sendo colegas. Marque venceu o "crono" de 35 km do Sabugal à Guarda e ganhou a Volta por quatro segundos. "Em 2013 era colega dele. Nesse ano não pensava ganhar a Volta, mas sabíamos que essa luta podia acontecer", detalha o ciclista de 40 anos, que sempre treinou na Galiza com o amigo, até quando ele vestia de azul e branco na W52-FC Porto: "Ajudou-me tanto nos estágios. Fazíamos a preparação no mesmo quarto quando ele estava no FC Porto e eu no Sporting. Este ano só dizíamos que tínhamos de pôr os outros a trabalhar e sabíamos que FC Porto e Efapel tinham muitos ciclistas a pensar no pódio. Motivou-me tê-lo este ano. Não é um talismã, mas quase. Dá-me tranquilidade correr ao lado dele."
"O Delio Fernández pode dar muita fruta ao Tavira"
"O Veloso é insubstituível, mas o Delio Fernández pode dar muita fruta ao Tavira", assim avalia Alejandro Marque o resgate do ciclista da Delko, que fez dois top 5 na Volta a Portugal antes de rumar a França, onde esteve seis anos: "Dos ciclistas que estavam livres no mercado é, possivelmente, a melhor contratação. Pode concentrar-se na Volta e fazer estágio de altitude". Vidal Fitas, diretor-desportivo do Tavira, reforça a ideia: "Está ao nível de um Marque ou de um Veloso. Pode entrar na luta pela Volta sem problema nenhum. Na Delko nunca teve a oportunidade de preparar uma corrida da forma certa".