Saiba mais sobre Daniel Levy, presidente do Tottenham.
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Sentado em cima de uma receita líquida de 200 milhões de euros nos dois últimos exercícios, o Tottenham foi um dos três clubes ingleses (com o Newcastle e o Norwich) que imediatamente aplicaram o mecanismo de "lay-off" possibilitado pelo governo britânico. Os mais de 500 funcionários dos spurs (excetuando jogadores) sofreram cortes de 20% nos salários e a maioria deles passou a ser paga, em 80%, pelos contribuintes. Não ajudou que o presidente fosse Daniel Levy, não apenas o executivo mais bem pago da Premier League (cerca de sete milhões de euros anuais), mas também um reputado avarento a quem já chamaram o mais duro negociador do mundo do futebol.
São dezenas os episódios que ilustram os dois epítetos, mas dois deles destacam-se. O primeiro foi um desabafo do coriáceo Sir Alex Ferguson depois de comprar ao Tottenham o avançado búlgaro Berbatov, por 35 milhões de euros: "Esta negociação foi mais dolorosa do que pôr a prótese na anca." A outra, mais anedótica, está relacionada com uma das contratações mais importante de Levy. Fechada a transferência do croata Modric, agora no Real Madrid, o presidente do Dínamo Zagreb pediu ao inglês que lhe cedesse cinco camisolas do médio, Levy acedeu e depois descontou o valor delas na fatura final da transferência (cerca de 25 M€).
Licenciado em Economia pela Universidade de Cambridge, Levy começou no negócio de roupas da família e avançou para a venda de propriedades, até conhecer o bilionário Joe Lewis, com quem fundou a Enic, uma firma de investimentos, que viria a comprar participações em vários clubes. Foi assim que o atual presidente do Tottenham entrou no futebol, pela porta do Glasgow Rangers, onde chegou a ser diretor. Em 2001, a Enic conseguiu entrar no capital dos Spurs, o seu clube do coração, e em 2007 adquiriu mesmo a totalidade do capital. Tudo por um valor de cerca de 50 milhões de euros, que hoje seria absurdo. Logo em 2001, Levy pegou nas rédeas do Tottenham, imediatamente ganhando a reputação de somítico, apesar do bom trato.
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Os adeptos do clube, os maiores críticos dessa sua faceta, chamam ao último dia das janelas de transferências o "Levy"s Time", o tempo do Levy. Compras ou vendas são deixadas com frequência para a última hora, geralmente com ganhos. O negócio recorde de Bale para o Real Madrid foi um desses casos, como também a compra do holandês Rafael van der Vaart, no derradeiro instante, por uns inacreditáveis oito milhões de euros. Jean-Michel Aulas, que lhe vendeu o guarda-redes Lloris, descreveu a negociação como a mais difícil dos seus 25 anos de carreira. "Tivemos gente a falar com ele noites inteiras. Avança e recua, rasga o que está escrito..."
A parte das noites inteiras encaixa numa entrevista dada pelo arquiteto do novo estádio do Tottenham (mil milhões de euros), que trabalhou oito anos com Levy: "Deixei de viajar com ele porque não dorme. Talvez durma duas ou três horas por noite." Christopher Lee, australiano, descreve-o como o cliente "mais complicado e exigente" que encontrou. "Discute detalhes inimagináveis." Crítico dos gastos galopantes dos clubes ingleses em transferências e salários, que considera insustentáveis, o patrão de José Mourinho e ex-patrão de André Villas-Boas fecha ao máximo a torneira dos reforços aos treinadores (é um adepto da "formação"). E há mais uns quantos portugueses que o conhecem. Foi ele que, em 2004, devolveu o avançado Hélder Postiga ao FC Porto, levou o médio Pedro Mendes e, no fim, teve lucro.