PERFIL - Aos 68 anos, foi a primeira vítima do novo coronavírus no Senegal, que regista um total de 175 casos positivos. Foi o primeiro presidente negro de um clube de elite em França
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"Marselha chora", escrevia ontem o L"Équipe na abertura da notícia que dava conta da morte de Pape Diouf, aos 68 anos, vítima de covid-19. E, contudo, a vida e a personalidade do antigo presidente do Olympique de Marselha (2005-2009) não deixou marcas apenas na cidade que o adotou, em 1970.
Primeiro presidente negro de um clube de elite em França, Pape Diouf foi, antes de mais, um modelo de integração num meio onde a regra não era - e ainda não é - a abertura.
Quem o conheceu melhor fala de uma inteligência rara e de uma cultura vasta que lhe permitiram nunca baixar a cabeça e olhar qualquer pessoa olhos no olhos, mesmo quando defendia as suas convicções de esquerda em contextos pouco dados a esse tipo de posições políticas. De resto, foi num jornal de inspiração comunista, A Marselhesa, que começou a carreira de jornalista desportivo que acabaria por ligá-lo de forma definitiva à história do maior clube da cidade.
Começou por fazer a ronda, recolhendo os resultados dos jogos de domingo e assinou o primeiro artigo em 1974, uma peça sobre basquetebol feminino, antes de se tornar no cronista regular da vida desportiva marselhesa e, por tabela, do OM. É desse tempo o primeiro confronto com Bernard Tapie, a quem a escrita contundente de Diouf provocava uma clara reação alérgica. A relação entre os dois será uma montanha russa que marcará os anos seguintes.
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Em 1987 junta-se ao Le Sport, um projeto montado para concorrer com o L"Équipe que não durou muito. Pelo meio, contudo, já tinha consolidado a amizade com Joseph-Antoine Bell, guarda-redes do Marselha, o primeiro jogador que representaria como empresário, também aí com uma abordagem diferente: não havia contratos escritos, tudo era decidido com um aperto de mão. Representou jogadores como Basile e Roger Boli, Marcel Desailly, Abedi Pelé, Samir Nasri e Didier Drogba entre muitos outros.
Em 2004, torna-se diretor-geral do Marselha, depois diretor do Conselho Diretivo e, finalmente, em 2005, é nomeado presidente. Durante quatro temporadas, num período complicado em termos financeiros, consegue reerguer o clube, mas falha os principais títulos. Será Jean-Claude Dassier, o sucessor, a colher os frutos de todo esse trabalho, sagrando-se campeão em 2010.
Internado em Dakar desde sexta-feira com covid-19, deveria ter partido no sábado para França num voo fretado por amigos como Étienne Mendy, mas o estado de saúde piorou de forma inesperada e Pape Diouf não resistiu. Aos 68 anos, foi a primeira vítima do novo coronavírus no Senegal, que regista um total de 175 casos positivos.