Saiba mais sobre Jaume Roures, fundador da Mediapro.
Corpo do artigo
O jornal "L"Équipe" devolveu-o às primeiras páginas, com a pimenta do costume na língua: críticas ao Canal+ e à beIN Sports (e por arrastamento ao presidente do PSG, que é o seu detentor...) por terem congelado o pagamento aos clubes dos direitos de transmissão dos jogos da temporada interrompida pela covid-19 e a garantia de que a sua Mediapro - que assumirá os direitos do futebol francês a partir da próxima época (comece ela sabe-se lá quando...) e até 2024, a troco de 780M€ anuais para a I liga e 34M€ para a II - está preparada para assumir a responsabilidade dos jogos ainda por disputar.
Jaume Roures a ser Jaume Roures, portanto. O fundador da Mediapro, de que continua a ser o principal rosto, apesar de entretanto o capital de uma das empresas que mais fatura com futebol televisionado estar já diluído noutras paragens, tem um gostinho por se meter em confusões. E não é de agora. Os perfis que dele existem assinalam quase sempre um personagem feito de contradições: um multimilionário com simpatias trotskistas, e que ultimamente tem votado Podemos. Catalão, e isso talvez explique esse sangue revolucionário, rejeita a ideia de ser um independentista (é, isso sim, pela autonomia) mas a sua impressão digital aparece muitas vezes ligada a ações das forças que sopram desde Barcelona o bafo contra o poder político de Madrid.
Ironicamente, segundo reza a lenda, terá sido a partir de alegadas simpatias de Madrid, quando Jose Luis Zapatero estava no poder, que conseguiu a licença para o canal La Sexta (2005), sem qualquer concurso público. De modesto trabalhador da TV3 catalã, onde sobressaiu no Desporto, e já depois de ter sido um dos fundadores, em 1994, da Mediapro, Roures começava a consolidar um império audiovisiual que lhe permitiu, em 2007-2008, vencer a Prisa na chamada "Guerra do Futebol" em Espanha, garantindo os direitos de transmissão de 39 dos 42 clubes. Aliás, foi sempre a crescer nesse domínio, e estima-se que só em 2017, por exemplo, tenha faturado 1650 milhões de euros. O futebol italiano está nas suas mãos até 2021, o francês estará até 2024, entre outras ligas menores.
NÃO SAIA DE CASA, LEIA O JOGO NO E-PAPER. CUIDE DE SI, CUIDE DE TODOS
Começou a trabalhar cedo, aos 12 anos, não tem estudos por aí além, no cadastro há detenções por supostas ligações revolucionárias, incluindo a ETA, e do grupo de amigos fazem parte nomes como Woody Allen, Oliver Stone ou Bernie Ecclestone (conseguiu roubar a Fórmula 1 à Telecinco em 2010...). Podia navegar na habitual sombra dos ricos, mas, aos 70 anos, não resiste a uma boa polémica. Seja a defender o regime de Cuba ou a desancar nos rivais televisivos que secaram a torneira no futebol francês. E o espaço aqui é pouco, porque caberia muito mais.