O regresso do futebol: testes nos dias de jogos e estádios passados a pente fino
Luz verde para o reinício da I Liga a partir do fim de semana de 30 e 31 de maio.
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O primeiro-ministro, António Costa, oficializou ontem a luz verde dada à I Liga para que, a partir do fim de semana de 30 e 31 de maio, complete as 10 jornadas do campeonato por disputar, viabilizando também a final da Taça de Portugal. Salvaguardou, porém, que essa autorização carece ainda de um carimbo formal da Direção Geral de Saúde (DGS), após análise ao protocolo de procedimentos que a Liga elaborou, mas isso não deverá atrapalhar os planos, porque esse protocolo já foi elaborado em articulação com as diretrizes validadas pela autoridade sanitária.
Entre as múltiplas determinações preventivas que constam do guia, segundo apurou O JOGO, inclui-se a obrigatoriedade de testar todos os jogadores (e árbitros) em dias de jogos, mediante a realização de testes rápidos, cujo resultado é conhecido em 45 minutos. Esta medida, exigida pela DGS, aperta um pouco mais a malha que era conhecida: os clubes já tinham sido avisados informalmente de que teriam de realizar testes, pelo menos, 48 horas antes de cada jornada, uma ou duas vezes por semana, consoante o ritmo ditado pelo calendário. Estima-se que esta obrigatoriedade tenha um custo mínimo acima dos 50 mil euros para um clube médio do principal campeonato e, no que toca à II Liga, a estimativa para a aplicação dessa norma nunca seria inferior a 35 mil euros, o que, considerando as verbas modestas que os emblemas encaixam, talvez ajude a explicar a decisão de não retomar o segundo escalão.
Como se sabia também, o regresso do futebol será feito à porta fechada, e desconhece-se ao certo em quantos estádios, isto porque, conforme sublinhou António Costa, os recintos terão de ser inspecionados e aprovados previamente pela DGS. Como O JOGO escreveu, pelo menos os estádios de Moreirense, Portimonense, Aves, os das equipas insulares - Marítimo e Santa Clara - mas também o do Famalicão, ao que foi possível apurar ontem, não estarão em condições de entrar no roteiro da retoma competitiva. As equipas que neles jogam terão, por isso, de o fazer em espaço neutro. Bonfim (V. Setúbal) e Jamor, casa do Belenenses, estavam igualmente em causa, o que, neste último caso, a confirmar-se, permitiria lançar uma questão óbvia à FPF: então, e a final da Taça de Portugal, vai ser onde?
"Não terei vergonha de dar passo atrás"
O anúncio do regresso do futebol apareceu encadeado no plano de desconfinamento progressivo explicado ontem pelo primeiro-ministro, que justificou a folga às restrições, resultantes da passagem do estado de emergência ao de calamidade, com os dados positivos registados por Portugal no combate à covid-19. O ritmo de crescimento dos contágios deixou de ser exponencial, o risco de transmissibilidade da doença também baixou, e o quadro estatístico atual afasta um cenário de rutura na capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde. O alívio das medidas foi pensado em três etapas, a primeira das quais a começar já na segunda-feira, dia 4, e as outras agendadas para 18 de maio e 1 de junho, respetivamente. A ideia passa por um regresso gradual à normalidade, com abertura calendarizada de serviços de diferentes áreas, e mediante a ressalva de que o avanço de cada uma dessas etapas dependerá de uma avaliação prévia ao impacto do novo plano no comportamento da doença. "Não terei vergonha em dar um passo atrás", avisou António Costa, ciente de que a luta contra a covid-19 será uma realidade inevitável "até que surja uma vacina ou tratamento". Portugal vai ter de manter comportamentos preventivos, como o uso de máscaras ou o distanciamento, e conservar as regras adicionais de higiene que esta pandemia determinou.
Clubes e jogadores com muitas dúvidas
A preparar o regresso aos treinos (só Sporting e Braga já o fizeram), primeiro de uma forma muito limitada mas com a posterior passagem para trabalho de grupo pré-competição definida, há clubes e também jogadores que assumem ter dúvidas. Os custos com as normas que passam a ser obrigatórias, isto além do incómodo manifestado por responsáveis de emblemas que terão os estádios vetados para as 10 jornadas finais, dão dores de cabeça aos dirigentes, que esperam por uma posição mais clara da Liga. Além disso, conforme O JOGO escreveu ontem, têm ainda sido confrontados com dúvidas de jogadores sobre se os seguros cobrem eventuais problemas resultantes de contágios. O Aves, por exemplo, enviou à Liga e à FPF uma nota oficial a dar conta dessas dúvidas . A O JOGO, Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores, admitiu que essa preocupação dos atletas é legítima, que o campeonato não pode recomeçar sem a garantia dos seguros, mas acrescentou que a questão tem sido debatida, havendo garantia da Liga e FPF de que será resolvida. A prorrogação dos contratos que terminam a 30 de junho é outro ponto a acertar. Apesar dessas arestas, se António Costa não der o tal passo atrás, em junho haverá outra vez futebol em Portugal.
Um mês a recuperar a forma antes das dez jornadas finais
Os adeptos podem reservar o mês de junho para recuperar o hábito de saborear jogos de futebol, ainda que não no estádio - uma das discussões em aberto, relativamente ao que resta da temporada, em Portugal e noutros países, prende-se com a possibilidade de os encontros serem transmitidos em sinal aberto. Uma parte das equipas já está a trabalhar e, a partir de segunda-feira, todas elas estarão de regresso aos relvados, sob regras apertadas de distanciamento, entre outras que constam do protocolo elaborado pela Liga. Só na primeira semana de junho deve regressar o campeonato, e em ritmo elevado, com jornadas duplas em semanas alternadas até se esgotarem as dez rondas em falta. Depois, lugar à final da Taça de Portugal, entre FC Porto e Benfica.