37.º aniversário d' O JOGO - Foi campeão mundial de sub-20 com Jorge Costa, Rui Costa, Figo... Lesões impediram-no de progredir na carreira.
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Trinta de junho de 1991. O velhinho Estádio da Luz enche com mais de 100 mil pessoas nas bancadas para a final do Mundial de sub-20. Portugal, vencedor em 1989, derrota o Brasil nas grandes penalidades e sagra-se bicampeão.
A história é conhecida e a geração, aquela futura geração de ouro, tinha nomes como Jorge Costa, Rui Costa, João Vieira Pinto, Capucho, Abel Xavier, Rui Bento... Entre os 18 convocados de Carlos Queiroz, 14 acabam as carreiras com mais de 100 jogos na I Liga e três passam as duas dezenas.
Nestas contas, sobra um nome: Luís Miguel, extremo-esquerdo da formação do FC Porto, que quando pendura as botas regista quatro partidas no primeiro escalão. Trinta anos depois, Luís Miguel continua ligado ao futebol e no local onde tudo começou: Santa Maria de Lamas, agora como treinador do seu União de Lamas, da AF Aveiro. Desempregado, desde que um incêndio provocou o fecho de portas da empresa de cortiça onde trabalhava, Luís Miguel guarda no cofre da mãe, por iniciativa desta, a medalha daquele Mundial. As lesões foram mais fortes do que os dribles que fazia e que o fizeram dar o salto para o FC Porto. Para entrar no futebol, deu nas vistas numas mini olimpíadas que se realizaram na terra. Tinha jeito para a bola e o União inscreveu-o nos infantis. Quando saltou para iniciado, fê-lo no Feirense, porque o Lamas não tinha sub-15. No Nacional, os jogos com o FC Porto correram-lhe "bem" e o telefone do pai tocou. Era Costa Soares, treinador, a convidá-lo para uma ida à Constituição. "Pensava que ia à experiência, mas quando cheguei lá chamaram-me para assinar", relata.
Jorge Costa, Rui Jorge e Bino foram alguns dos nomes com quem jogou nas escolas dos dragões e em sub-19 sagrou-se campeão, orientado por Augusto Inácio. Nos seniores, começa por jogar no Rio Ave, na extinta II Divisão B, e, depois de ter estado num Europeu sub-16 em 1988, é chamado ao Mundial de 1991. Foi campeão, mas o pesadelo começava ali. "Fui ao Mundial com uma fissura num pé. Os médicos não descobriram o que era. No Rio Ave diziam que só queria ir à Seleção e na Seleção diziam ser um problema mental", narra. É suplente utilizado em dois encontros e muda-se para o Gil Vicente em 1991/92. No entanto, as dores não paravam desde que fizera o Mundial. "O médico do Gil Vicente acreditou em mim, levou-me para a Casa de Saúde da Boavista e disse "não sais daqui sem sabermos o que tens". Descobriram uma fissura no osso escafoide. Fazia 20 anos nesse dia, estavam a cantar-me os parabéns e entrou na sala a equipa técnica e os médicos. Disseram-me que tinha um calvário de dois anos pela frente. Já não ouvi mais nada", acrescenta.
Segue-se a cirurgia, o pé imobilizado com parafusos e sete meses de recuperação. Ainda faz cinco jogos antes do final da temporada e assina pelo Belenenses em 1992/93, mas as dores reaparecem na pré-época. "No Belenenses verificaram que eu tinha uma pseudo-artrose, uma espécie de calo ósseo. Disseram terem que raspar o osso, algo que já devia ter feito na primeira operação", recorda. Mais alguns meses parado e, a pedido do FC Porto, volta a Lamas para ganhar ritmo. Em 1993/94 o Felgueiras contrata-o, contudo não joga. "Não estava bem. Ganhara peso e tinha perdido muita velocidade. Já não era o mesmo jogador", sintetiza. As restantes páginas da carreira fazem-se no União de Lamas, na II Liga, onde ainda conseguiu ter algum sucesso (fez dez golos em 1994/95), Cucujães e Ginásio de Tavira, porque trabalhava no Algarve e fora desafiado por Amaral, campeão de Riade. "Equiparavam-me ao Futre, que era o meu ídolo. Tinha boa aceleração, fazia mais assistências que golos e cruzava bem. No FC Porto, ainda fiz dois ou três treinos com os seniores". Todavia, as marcas deixadas pelas cirurgias notavam-se. "Sofria várias entorses porque o pé estava muito fragilizado. Aos 27 anos, volto a ter uma fissura no pé. Os médicos chegaram a dizer-me que iam por-me bom para a vida, mas para o futebol não sabiam". Hoje guarda alguma mágoa. "Devia ter deixado o futebol após a segunda operação. O António Oliveira, meu treinador do Gil Vicente, disse-me para colocar a FPF em tribunal, mas eu não queria entrar em litígio porque acreditava que ainda ia voltar às seleções. E após as operações custava-me ver jogos da Seleção, porque os meus colegas despontavam, enquanto eu estava parado", lamenta. "Nunca recebi um carinho das pessoas que estavam então na FPF, nada de ninguém. Tive uma fratura gravíssima e a culpa não foi minha. É a mágoa que tenho e vai morrer comigo. Podia ter sido um Capucho, ter tido uma carreira semelhante à dele", termina Luís Miguel.
Campeão do mundo com o pé partido
"Luís Miguel, campeão do Mundo com o pé partido". Corriao verão de 1991 quando o extremo foi capa num jornal desportivo. Lia-se que os médicos "não se aperceberam" da lesão que atirara o jogador para a mesa de operações.
4 jogos na I Liga
Luís Miguel Martins cresceu entre a geração de ouro, mas acabou a carreira com, apenas, quatro jogos na I Liga. Na foto ao lado, o extremo posa com Jorge Costa e Rui Costa num estágio da Seleção sub-20.
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