Football Leaks: informação passada por Rui Pinto provocou "tremor de terra" em África
Dirigente da PPLAAF realça a importância da ajuda do denunciante português
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Henry Thulliez, dirigente de uma associação que combate a corrupção, de forma geral, no continente africano, enalteceu na manhã desta quarta-feira o papel de Rui Pinto no apoio à sua causa.
"Vivo em Paris e, para além de advogado, sou também fundador e atual diretor da Plataforma de Proteção dos Lançadores de Alertas em África (PPLAAF). É uma associação que protege os direitos do homem em África. (...) Foi neste contexto que William Bourdon me convidou em 2018 a conhecer um lançador de alertas que tinha informação relacionada com África. Ele obteve desta pessoa um disco com volume considerável de informação sensível. Ele queria partilhar connosco os conteúdos porque estava ciente do nosso trabalho contra a corrupção em África. Ele sentia-se chocado com o conteúdo das informações e queria que fossem objeto de uma investigação independente e séria. Não queria contrapartidas, agia sem interesses. Era informação transnacional. Passámos então as informações ao consórcio internacional de jornalismo de investigação", começou por explicar Thulliez, durante a 38.ª sessão do julgamento do processo "Football Leaks", a decorrer no Campus de Justiça, em Lisboa.
Testemunha chamada pela defesa do arguido em causa, Thulliez acrescentou: "Em março de 2019 demos as informações ao consórcio. Inclui jornalistas de todo o mundo, estão na base dos Panama Papers, é organização respeitada e rigorosa, ganharam o prémio Pulitzer. Eles investigaram e encontraram duas histórias., uma sobre o empobrecimento e pilhagem de recursos da população e a concertação entre intermediários ocidentais para facilitar a pilhagem.(...) 715 mil documentos investigados por 120 jornalistas de 36 órgãos de 20 países. Começaram a publicar em janeiro de 2020, o que produziu um tremor de terra. Pela primeira vez a corrupção em África sai na primeira página dos maiores jornais do mundo.(...) Era uma rede de 400 empresas em 41 países, à qual Isabel dos Santos e seu marido tinham ligações. Era uma pletora de sociedades de advogados a ajudar Isabel e o marido. 94 empresas em paraísos off-shore. Enormes evasões fiscais constavam no conjunto de informação. Em 2017, por exemplo, após ter sido demitida pelo novo presidente de Angola, Isabel, que tinha sido presidente da Sonangol, deu ordem de pagamento de cinco milhões de dólares a favor de uma sociedade no Dubai que pertencia a um dos seus associados. (...) Em 2020, Isabel e marido foram acusados de branqueamento de capitais."