Por que razão há conversas no processo de Vieira sobre a competência de Rui Costa? Que relevância tem para a acusação e, mais importante, porque é que sabemos disso?
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Sou jornalista e para um jornalista não há fugas de informação, só informação, que pode ser de interesse público ou não. E aprendi há muito tempo que filosofar demasiado sobre o interesse público serve menos para condenar o jornalismo que foi longe de mais do que para desculpar o jornalismo que não foi tão longe como devia.
Onde não há, ou não devia haver, espaço para esta filosofia, é na Justiça. Já vai sendo hora de alguém, talvez o nosso hiperativo Presidente da República, perguntar por que motivo são usados, sistematicamente, meios da Justiça atentatórios dos direitos e liberdades dos cidadãos para fazer coscuvilhice e - muito pior do que isso - permitir que essa coscuvilhice não só conste dos processos como saia cá para fora.
A que propósito é relevante a opinião de Vieira e Soares Oliveira, seja qual for a acusação, sobre a competência de Rui Costa? Para mim, jornalista, e pelo menos para os benfiquistas talvez seja, mas os meios da Justiça servem propósitos bastante mais altos. No mínimo, se esta tralha tem de constar dos registos, a Justiça está obrigada a fazer tudo para que ela nunca seja do conhecimento público, incluindo punir os responsáveis quando isso falha.
Há 15 anos, em Inglaterra, foi gigantesco o escândalo quando se soube que o tabloide "The Sun" construíra um esquema de escutas a telefones privados para saber detalhes da vida íntima de atores, figuras do jet-set e até da família real.
Em Portugal, sem escândalo nenhum, inventámos o tabloidismo policial que põe os cidadãos nas mãos dos apetites dos agentes de autoridade. Especulemos, por exemplo, que Rui Costa esteja a ser vítima de um funcionário público benfiquista desconsolado com as derrotas nos clássicos. Nada nos assegura, pelo contrário, que não há fugas assim, por simples mesquinhez. É aí que morre o Estado de Direito.