O futebol profissional precisa, com urgência, de um clube grande que resista a gozar com a Justiça desportiva. E o FC Porto é aquele que mais teria a ganhar com esse gesto revolucionário.
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O FC Porto devia aceitar os dois jogos de interdição com que foi castigado pela escaramuça com o Sporting, em fevereiro.
Devia fazê-lo mesmo sendo um desses jogos de interdição com o Sporting, ou melhor, sobretudo por ser com o Sporting.
Não há muitas mais medidas de rotura possíveis na Liga portuguesa: a derradeira inovação, no atual estado de coisas, será um clube que assuma culpas e resista a participar na anedota que tem sido o circuito da justiça desportiva.
Se perguntarem a qualquer consumidor de notícias de futebol o que é o TAD, eles responderão que é aquele sítio onde as equipas ricas vão abandonar os castigos, como quem solta o cão na autoestrada para ir de férias. Desde o caso Palhinha, o termo "providência cautelar" faz rir mais portugueses do que o Herman no topo da forma. Acompanhei as piores guerras dos Conselhos de Disciplina/Conselhos de Justiça da FPF, nos anos 1990, quando havia mesmo infiltrados em cada um dos órgãos, e nunca pensei recuar nas ideias ao ponto de achar que aqueles eram os bons tempos. Pelo menos, conhecíamos o processo: sentença do CD, recurso, sentença do CJ. Os tribunais não eram para aqui chamados.
E o FC Porto deve admitir que o papel dos coletes azuis naquele jogo não tem desculpa possível, ainda que não passe pela cabeça de ninguém pôr no contrato dos prestadores de serviços a cláusula "é favor não agredir os jogadores adversários": aconteceu e aqueles três desaustinados estavam, de facto, ao serviço do FC Porto. Para além disso, os portistas enfrentam uma guerra de imagem, metódica, organizada e com bastantes contributos voluntários da sua parte. Reconhecer culpas, em especial assumir a sentença terrível de jogar "fora" o clássico com o Sporting, seria uma prova de força e dignidade que, muitas ou poucas, poria algumas pessoas a pensar e deixaria outras sem argumentos.