TEORIAS DO CAOS - Opinião de José Manuel Ribeiro
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1 - O caso W52-FC Porto teve um lado bom. Jornais e televisões que costumam ignorar o ciclismo nacional, até ostensivamente nalguns casos, tiveram uma epifania e despertaram para a modalidade. Adriano Quintanilha não conseguiu sequer um terço desse sucesso mediático com os anos de associação ao FC Porto, agora terminados em tragédia.
Em pouco mais de uma semana, ouvimos e lemos mais ciclismo do que numa temporada completa, embora de ciclismo tenhamos ficado a saber pouco, apesar de ser ele - e não o diretor da ADOP - a maior vítima deste processo. A hipótese de ressurreição à boleia dos três grandes clubes de futebol desapareceu, pela acumulação de dois fatores: as ações da W52-FC Porto, que, a confirmarem-se, demonstram uma espantosa falta de noção e de responsabilidade, e o lado negro da "ajuda" dos grandes, que são as discussões públicas desonestas e contaminadas, muitas vezes acabadas em apelos esganiçados ao secretário de Estado de Desporto.
Em três décadas deste trabalho, continua a ser o maior mistério com que me deparei. Neste caso, o secretário de Estado deve fazer o quê? Sobrepor-se às regras no ativo e às instituições, com poderes de que não dispõe? Investigar as ameaças anónimas ao diretor da ADOP, em vez da polícia? Não investigar e culpar por decreto quem os colunistas mais alucinados e os programas de barulho indicarem? Acabar com o doping no ciclismo (e com o conflito Israelo-Árabe no tempo que sobrar)? Em qualquer dos casos, fica a ironia. O futebol devia ser o derradeiro anjo da guarda para a modalidade e sai de cena como se fosse o coveiro.
2 - Sérgio Conceição arranjou maneira de surpreender Tozé Marreco (e toda a gente), ao saltar os preliminares e lançar logo no primeiro minuto da Supertaça quase toda a artilharia pesada (Taremi, Evanilson e a surpresa dentro da surpresa, Danny Loader). Por trás deles, Pepê, em mais uma posição no impressionante repertório que montou em apenas um ano de Conceição, mas não a mais entusiasmante, nem a mais útil para o FC Porto. Ficou o recado: falta uma peça que ligue a equipa a todo aquele poder de fogo.
3 - Moreno a treinar o V. Guimarães é um apelo à energia que só pode vir das entranhas de quem joga pela família. Pisado como foi o risco nos cortes que a SAD fez, uma boa pré-eliminatória da UEFA está muito longe de ser suficiente para trazer a equipa para terreno seguro, mas com o Puskás Akadémia vimos, pelo menos, que a ideia de pôr Moreno a puxar pela alma daquele plantel económico funciona. Pode não ser tão simples, por várias razões, a principal delas a própria pré-eliminatória. A ressaca dos começos apressados pelos apuramentos da UEFA quase nunca falha e já custou até algumas descidas de divisão, como a do Rio Ave há pouco mais de um ano. O grito de Moreno terá de durar cada minuto da época.