Brasileiro chega ao Dragão já a preencher muitos dos requisitos habituais do treinador.
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Gabriel Veron Fonseca de Sousa parece desenhado à medida para os gostos de Sérgio Conceição. Descoberto no sertão nordestino do Brasil entre 300 outros candidatos pelo Santa Cruz do Natal, com apenas 13 anos, demorou duas épocas a chegar ao Palmeiras e, depois de lá ter chegado, levou 45 dias a despertar atenções na seleção brasileira de sub-17, por quem viria a ser campeão mundial, melhor jogador da prova, melhor driblador e melhor criador de oportunidades de golo em bola corrida.
Um extremo intenso, versátil, possante, muito veloz e conhecido entre os treinadores e críticos pela reação à perda da bola e pelo contributo defensivo. E que vem das mãos de dois técnicos com afinidades
Antes disso, fora o artilheiro do clandestino campeonato do mundo de clubes sub-17, jogado em Madrid, com nove golos e vitória do Palmeiras na final, frente ao Real.
Wanderley e Abel garantem a escola
Quando Wanderley Luxemburgo o passou para as mãos de Abel Ferreira, já tinha seis títulos importantes na formação. Luxemburgo e Abel são mesmo a primeira indicação para o treinador do FC Porto: ambos pedem aos seus atacantes o tipo de trabalho defensivo obrigatório nas equipas de Conceição. Veron aterrará em Portugal já com algum estilo europeu na cabeça e nas pernas, para usar um eufemismo. Não são raros os jogos pelo Palmeiras em que acaba no primeiro lugar do ranking de desarmes e fazem-lhe dois elogios recorrentes que os adeptos portugueses acharão familiar: a excelente reação pós-perda de bola e os duelos defensivos ganhos. Mas isso é começar pelo secundário, apesar de importante. As armas que justificam a contratação são outras, e algumas também com um toque precocemente europeizado.
Velocidade, mas com meio e fim, diz a FIFA
A velocidade será a primeira evidência aos olhos do observador despreparado. O Palmeiras publicitou em tempos que Veron atinge os 38 km/hora (Usain Bolt ficou nos 44,4), embora por si só esse número revele pouco. Uma certa corrente filosófico do jogo insiste na frase "futebol não é atletismo", e com alguma razão. No relatório técnico do Mundial"sub-17 de 2019, a FIFA destaca que, "nos flancos, houve alguns grandes exemplos de jogadores que possuem a aptidão para executar ações a alta velocidade e, ainda assim, a capacidade para fazer o último passe ou marcar. O Bola de Ouro do torneio, e campeão do mundo, Veron exibiu habilidades extraordinárias nessa área".
Muito drible e uma grande paixão pela trivela
Para fazer render a velocidade, o reforço do FC Porto vale-se de outras características precoces, como a receção orientada, com a noção do espaço livre a aproveitar em progressão. Isso vale-lhe uma das muitas utilidades que pode ter na equipa, como acelerador do jogo em zonas mais recuadas, e outra menos comum no FC Porto habitual, que é o contra-ataque. Sem hipótese de meter tanta vertigem, como se diz, Veron continua a ser uma ameaça, por ter também muito drible. Uma das curiosidades da sua adaptação é se manterá a confiança sobrenatural que sempre mostrou no Palmeiras nas jogadas de um para um. Faz-se notar menos no cruzamento, por não ser aquele extremo ortodoxo de procurar a linha, mas, em contrapartida, os portistas gostarão de uma das suas formas favoritas de concluir os lances: a trivela, quer no passe, quer no remate.
Ganhou títulos a jogar em três posições diferentes
Normalmente rotulado como extremo direito (é destro), talvez por ter sido a jogar nessa posição que ganhou o Mundial"sub-17, há algum consenso de que é na esquerda que roça os máximos. Aí o estilo aproxima-se muito do que os portistas viam em Luis Díaz. Drible a cortar para dentro e remate, incluindo a famosa "banana" que o colombiano tenta com frequência. Onde se diferenciam é na versatilidade. Veron venceu provas longas diferentes a jogar em todos os corredores, incluindo um campeonato de sub-20, pelo Palmeiras, quase sempre como segundo avançado, pelo centro. O drible curto e o remate fácil e variado habilitam-no também para esse lugar. Na Europa, o desafio estará no grau. A intensidade, o repentismo e os princípios de que Sérgio Conceição gosta estão todos lá, inquestionavelmente; a questão agora será aplicá-los num ambiente mais acelerado em tudo.