O defeito do projeto da UEFA é que formar competidoras exclui mais raparigas (ou rapazes) do que aquelas que recruta, ainda com uns bons oito anos para ganharem outros gostos até à idade adulta.
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A UEFA decidiu que todos os clubes participantes nas suas provas são obrigados a contribuir para o milagre do futebol feminino.
Não conheço outros casos de modalidades ou variantes que tenham beneficiado de um empurrão tão grande e descarado, a não ser o próprio futebol feminino, mas ao contrário.
Só nos anos 1980, por exemplo, deixou de ser proibido no Brasil. Já expliquei aqui qual foi a razão do súbito despertar da FIFA, da UEFA e das federações nacionais para a igualdade de género: a desigualdade do mercado. O futebol ainda não consegue chegar ao bolso das senhoras como chega ao dos homens, nem está perto sequer. Quaisquer que sejam os motivos, um observador com os olhos abertos deve apoiar a aplicação da ideia em Portugal. Pior do que a percentagem de cidadãos praticantes de exercício físico, é a percentagem de portuguesas. Se puxá-las para o futebol ajudar, não há que perder tempo com o mercantilismo original da coisa: o Estado deve apenas agradecer e aproveitar a ajuda inesperada. E se não faz sentido olhar esse dente ao cavalo dado pela UEFA, mais ridículo ainda é questionar coisas como a inadequação física das senhoras ou outros disparates, ia escrever sexistas, mas disparates apenas tolos que tive de ler recentemente.
Na origem do problema talvez esteja uma visão errada do desporto que não é só desses tolos. Para os portugueses, todos os Governos incluídos, o desporto pertence aos competidores, que são uma minoria ínfima dos cidadãos contribuintes. A minha preocupação com a generosidade da UEFA é que o futebol deixa de ser para todas assim que a competição entra em cena, aí pelos 11 ou 12 anos, e passa a querer só as melhores. As que ficam para trás, e que são a maioria, terão oito anos, até à idade adulta, para arranjarem outra coisa com que se entreterem. E arranjam.