TEORIAS DO CAOS - Opinião de José Manuel Ribeiro
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1 - O Sporting esbanjou um momento estratégico, criando, em simultâneo, um momento estratégico para o FC Porto. Esta fase da Liga Europa, tal como a UEFA a desenhou, surge como uma espécie de punição para as equipas que descem da Liga dos Campeões ou acabam em segundo lugar a fase de grupos.
Esta era a semana extra de que o Sporting dispunha para tirar partido do desgaste do FC Porto, por ironia no único local em que o adversário perdeu pontos, fora os jogos entre ambos, e de forma muito parecida.
A vantagem do desgaste transita para a primeira mão da Taça, já na quarta-feira, mas dá ao FC Porto a oportunidade dourada de alargar a almofada para oito pontos hoje à noite, a dez jornadas do ponto final.
O Marítimo também acabou por ser um teste, se calhar prematuro, aos reforços de janeiro, que pretendiam diversificar um Sporting forte no que fazia, mas monocórdico. Aí, a resposta será menos clara. Se Slimani, apesar do golo, levantou dúvidas pela necessidade de faltas para contribuir com alguma coisa, Edwards já insinuou outras valências, que podem ser bastante úteis.
No FC Porto, não é diferente. Há dois reforços, com seis meses a separá-los, essenciais para o resto da época. Pepê e Galeno não podem ser só bons operários, e talvez a ultracompetência do Gil Vicente seja o momento para que algum deles o demonstre.
2 - A primeira guerra "honesta" da Rússia foi demasiado para o Ocidente e para o futebol. Enquanto Putin se contentou em ser um filho da mãe por debaixo da mesa (com o rabo bem de fora), ninguém se inquietou demasiado, apesar de os prejuízos, para muitos países e para a democracia, serem até superiores ao da invasão da Ucrânia (vidas à parte, obviamente).
Foi ele quem semeou a extrema-direita na Europa e nos Estados Unidos, criou uma máquina de desinformação muito mais agressiva do que qualquer manobra da Guerra Fria, e o dinheiro sujo do séquito de oligarcas por quem os bens públicos russos foram repartidos está na base do branqueamento de capitais que corrompe e distorce o futebol profissional há, pelo menos, duas décadas.
Essa parte, por muito evidente que fosse, não incomodava. UEFA, FIFA, Comité Olímpico e uma dúzia de modalidades importantes encarregaram-se de manter a face internacional da Rússia lavadinha e a brilhar, com dezenas e dezenas de competições desportivas, a um ritmo anual ininterrupto. Os mesmos valores seletivos aplicaram-se à China e, nesse caso, aos clubes que também não quiseram saber, nem querem agora, da natureza e comportamentos do Estado chinês. Duvido que recuassem se Taiwan fosse invadido. Aplicam-se ainda à Arábia Saudita e ao Catar. Em ambos os casos, também com sangue à mistura.
O futebol não tem de decidir se a final da Liga dos Campeões se mantém em São Petersburgo ou se a Rússia jogará o play-off para o Mundial. Precisa de decidir é se a decência continuará a ser uma questão de preço.