A mão (e o braço, o ombro, a omoplata, etc.) que Rui Costa estende a Domingos Soares Oliveira tem quase validade jurídica e um único motivo à vista: reabilitar o administrador com estrondo.
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A presentado à sombra protetora da glória de Amesterdão, o novo modelo de gestão da SAD do Benfica primeiro estranha-se e depois não se entranha.
Não é habitual vermos um presidente partilhar poder desta forma. Rui Costa vai dirigir a Comissão Executiva a par de Domingos Soares Oliveira, como co-CEO. A águia bicéfala, em si, tem pouco de original.
Foi símbolo do império russo, por exemplo, embora o escudo de Ivan, o Terrível lhe acrescentasse uma terceira cabeça inconveniente, de dragão. Por tremenda ironia, a ideia original da águia pretendia simbolizar a união entre Ocidente e Oriente, através do casamento da princesa herdeira de Bizâncio com o príncipe herdeiro da Rússia, no século XV, mas isso não vem ao caso. Aqui, o rei herdeiro do Benfica une-se em matrimónio com o príncipe herdado das suspeitas que restam, depois de consumada a Vieirectomia no clube. Soares Oliveira era o último apêndice. A mão (e o braço, o ombro, a omoplata, etc.) que Rui Costa lhe estende tem quase validade jurídica. Tantos meses depois da transição, tamanha prova de confiança sugere que o presidente espreitou por debaixo de todos os tapetes, abriu todos os armários, e em vez de razões para desconfiar do antigo braço direito de Vieira, descobriu motivos para o premiar com um singular estatuto de igualdade que, visto de fora, parece, no mínimo, bastante desnecessário.
Que motivo haveria para reabilitar Soares Oliveira com tanto estrondo aos olhos dos benfiquistas? A conclusão que se tira é a de que, na Luz, havia um Ocidente e um Oriente em batalha. Quem sabe se não se poupou uma Ucrânia.