Da decisão de o contratar à decisão de lhe pôr às costas um plantel megalómano e os ziguezagues da formação, passando pelas compras desta época (sem Vieira), há muito mais que Jesus no presente do Benfica
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Poucos treinadores no mundo, ou na história, incentivam (suplicam?) mais a crítica do que Jorge Jesus. Já vem dos primórdios, quando lhe chamavam Cruyff de Felgueiras (não no bom sentido), uma alcunha gerada pelas constantes referências auto-elogiosas que, com certeza, lhe atrasaram a carreira.
Depois veio o Benfica, vieram os títulos, a fama, a adulação de milhões de benfiquistas, a saída para o Sporting e o ressentimento dos mesmos milhões, a viagem do ego à Lua (e mais além) com o Flamengo e o regresso à Luz num perigoso contexto de falta de consenso.
Mas não era a única contraindicação. Ir recuperar um treinador tão estudado em Portugal, e durante tantas épocas, podia ser um sério erro de análise, como aqui escrevi na altura. Vieira juntou-lhe a asneira do plantel megalómano, difícil de corrigir numa época ou duas, e os ziguezagues com a formação. Foi o mesmo que pintar um alvo nas costas de Jesus.
Ao mesmo tempo, desprezava-se o currículo. Se a competência de Jesus não se discute, vê-lo como garantia de títulos (supondo que isso pudesse existir) é um desafio à realidade, aos factos, maquilhado pelo impacto que a chegada de uma ideia desconhecida teve no futebol brasileiro.
Quatro meses entrados na época, a impressão inicial de um mercado de verão bem conduzido também se desvanece, e não é Jesus, ou não devia ser, quem toma a decisão final sobre o que se compra (pelo contrário, o passado dele até desaconselha).
Estabelecer que foi dado tudo ao treinador e que, por isso, ele não tem desculpas é demasiado fácil e, pior do que isso, perigoso, por juntar mais gasolina ao atrito com os contestatários. E o Benfica, na verdade, ainda não perdeu nada.