Há um ano, um batalhão de figuras alheias à ficha de jogo, incluindo um juiz-presidente, tentou pôr Portugal no mapa do futebol internacional de uma forma ainda mais ridícula do que a de sexta-feira.
Corpo do artigo
O Supremo Tribunal Administrativo deliberou que quem apita, nos jogos de futebol, são os árbitros. Por esta altura, no ano passado, dezenas de notáveis (alguns até juristas de mérito) defendiam que não, tal como defenderiam o oposto se, em vez de Palhinha, o amarelo contestado em tribunal fosse de Uribe ou Weigl.
Pelo meio, o juiz-presidente do Tribunal Central Administrativo do Sul saiu a correr do campo de golfe, num final de sábado, para assinar uma providência a proclamar que, sim senhor, quem arbitra jogos de futebol são os tribunais. No dia seguinte, Palhinha, amarelado, jogaria com o Benfica.
Se o STA não tivesse contrariado o juiz colete azul, ou seja, se este país já tivesse atingido a demência, passariam, de facto, a ser os tribunais a arbitrar. Cartões amarelos, vermelhos, penáltis, linhas de offside: nada estaria, hipoteticamente, fora do alcance dos juízes que interrompem folgas para arbitrar jogos de futebol.
Também os haveria, não duvido, para o FC Porto ou para o Benfica, talvez mesmo o Braga pudesse encontrar um já de apito na boca e bochechas insufladas, mas e o Arouca, o Tondela ou o Olivais e Moscavide? Ou a família que precisa de uma assinatura para não ser despejada do apartamento durante o fim de semana? O sr. Dr. Juiz poria a sua capa vermelha (de Super-homem, não do Benfica, aposto) e correria a salvá-la num sábado à noite?
Tudo isto era claro há um ano, mas, cheia de violentas convicções, uma massa crítica de outros coletes azuis (com excelente tratamento dentário) não hesitou um segundo em atirar o futebol para um caos óbvio e de vencedor imprevisível, à revelia da razão, do bom senso e até dos próprios interesses futuros do seu clube. Eles (os coletes azuis) não nasceram só na sexta-feira.