É Deus, o filho, o Espírito Santo e o Mundial de futebol a cada dois anos. Escolham: será um esquema para enriquecer a FIFA e respetiva clientela ou um ato humanitário para usar o futebol na salvação dos homens?
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O presidente da FIFA sugeriu, numa sessão do Conselho da Europa, que a realização do Mundial a cada dois anos ajudará a acabar com o naufrágio de migrantes no Mediterrâneo.
Aparentemente, o campeonato do Mundo do futebol ensina o Terceiro Mundo a nadar, no sentido figurado e também literal do termo. Mariposa, bruços, crawl: com mais mundiais, a Terra será o Michael Phelps dos planetas.
Infantino acusou a UEFA de querer o futebol só para si, e tem razão. Há comissões que cheguem para toda a gente, e tantos, tantos dirigentes necessitados em África, na Ásia e na Oceânia, todos eleitores de Infantino na FIFA. O Mundial bienal seria "inclusivo".
Como sabemos, esses três continentes fartam-se de jogar nos Mundiais. Em 21 edições, duas seleções fora da Europa e da América do Sul estiveram nas meias-finais, a primeira em 1930 e a última há vinte anos. Uma seleção africana, em média, passa a fase de grupos (em 2018, nenhuma). Estamos a falar de 15 dias e/ou seis jogos de "inclusão" com a elite europeia e sul-americana, de dois em dois anos, para cada confederação despeitada. Farão toda a diferença, mais até do que os calendários atamancados, os jogadores sem férias e Mundiais afinados em cima do joelho.
Para o próximo Mundial, a Premier League só liberta os jogadores dez dias antes da abertura. Será um primor de preparação e um auspício do futebol de qualidade que pode vir aí.
No Mundo "inclusivo" de Infantino, morreram três trabalhadores emigrantes nos estaleiros do Catar"2022, não os 6500 de que fala a Amnistia Internacional, nem os 38 que o próprio Catar assume: só os três óbitos que foram declarados como acidentes de trabalho. Um Mundial que ressuscita pessoas, para além de as ensinar a nadar.
Faz toda a diferença na vida de um refugiado sírio ou de um desesperado sudanês que, de dois em dois anos, haja uma final entre a França e a Croácia para desenjoar das finais entre o Chelsea e o Manchester City. Mas não há como negar: se em dois segundos, Infantino salvou a vida a 6497 emigrantes no Catar, calcule-se quantos migrantes salvará das águas a cada dois anos.