Algo está mal quando um clube cheio de dinheiro e competência ganha só por dois pontos a um clube sem dinheiro nem competência
Corpo do artigo
Neste momento, o debate público do futebol é um rebanho tonto que vai para onde a televisão o leva e que, por vezes, escapa completamente à racionalidade e aos factos. Se o Benfica, neste momento descrito como muitíssimo superior na organização e no mercado, ganhou três dos seus últimos quatro campeonatos por três pontos ou menos (e perdeu outro por sete), o que aconteceria se FC Porto (sobretudo) e Sporting fossem apenas 50% do desastre ridículo que o alinhamento dos comentadores insiste em descrever?
Uma coisa será assumir, porque é verdade, que o Benfica criou uma empresa sólida e progrediu mais no profissionalismo e nas receitas. Outra é ver um colosso competitivo onde nem sombra dele existe, sobretudo depois de o Benfica ter acabado de ganhar, por dois pontos (dois pontos), um campeonato a uma equipa limitada há dois anos pelo fair play financeiro da UEFA e muito inferiorizada na capacidade para investir. A que propósito podem esses dois pontos de diferença ser um elogio aos talentos de mercado do único clube que tinha dinheiro (e a melhor formação, dito pelo próprio)?
Apesar de ter ganho bem o último campeonato, é um bocado contraditório elevar-se o Benfica à condição de Juventus portuguesa (três ligas ganhas por mais de nove pontos nas últimas cinco) depois de uma época em que, com os principais adversários enfraquecidos de recursos e completamente à mercê, só conseguiu, a um, ganhar o campeonato à rasca, e perder as duas Taças para o outro (já com Bruno Lage ao comando)? Em que episódios ao certo se vê tanto colosso, tanta hegemonia e tanta diferença de competência, excetuando quando intervém Jorge Mendes? Não é ilibar os outros; é fazer a pergunta que falta.