Pôr o PSG no lado dos maus e o Real Madrid no lado dos bons foi a anedota das últimas semanas. Preferiam as 13 taças dos campeões do Real ou as seis do Liverpool?
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A renovação de Mbappé pelo Paris SG lançou um debate que posicionou o Real Madrid no lado dos bons e os parisienses no lado dos maus. A segunda parte não se contesta. Todos os adeptos, menos os do PSG, perdem alguma coisa com a inflação provocada pelas obscenidades financeiras do Catar.
O Liverpool, que hoje encontra o Real na final da Liga dos Campeões, tenta assinar um novo contrato com a estrela Mohamed Salah. O egípcio, um dos cinco melhores jogadores do mundo, ganha atualmente 12 milhões de euros anuais. Mbappé receberá o triplo. Percebem o problema? E o efeito dominó que acabará por afetar o clube de cada um nós?
Mas a existência do PSG não santifica o Real Madrid, nem as ideias autocráticas de Florentino. Antes da chegada dos oligarcas e dos árabes, quem inflacionava o futebol era o Real, quem se comporta no mercado como um rufia é o Real, quem assedia jogadores dos adversários à revelia da vergonha e das regras é o Real, quem ostenta um absurdo sentimento de posse sobre o futebol é o Real Madrid de Florentino.
Há qualquer coisa de senhorio feudal no desígnio obsessivo, assumido mesmo como um direito, de colecionar no Bernabéu os melhores do mundo (as manchetes dos desportivos madrilenos demonstram bem esse delírio: "Falta muita classe [a Mbappé] para jogar no Madrid" e "Ele é que perde").
Este Real é um monumento ao egoísmo, à petulância, à ostentação e ao demérito, ao facilitismo de ter sempre os melhores, tantas vezes só por gula e sem racionalidade futebolística - o que acaba, paradoxalmente, por exigir aos seus treinadores grandes trabalhos.
Hoje, na final, estarão 19 taças dos campeões, 13 conseguidas (a maioria) à custa deste açambarcamento de talento e seis, as do Liverpool, ganhas sem atalhos megalómanos. Quais são as mais valiosas?