Como recompensa pela época luminosa, a UEFA enche-lhe a mochila de pedras. Nem para os grandes as pré-eliminatórias são um problema descodificado
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O futebol pode ser mais ingrato para os vencedores do que para os vencidos. Nestas duas últimas, o Gil Vicente fez bem uma montanha de coisas. Pegou num treinador que estava subvalorizado (vá lá saber-se porquê), remendou bem os rasgões que o mercado lhe foi fazendo no plantel e acabou num quinto lugar lendário.
Como recompensa, vai enfrentar a sua primeira época europeia à pressa - para disputar a 2ª ou, na melhor das hipóteses, a 3ª pré-eliminatória da Conference League -, provavelmente enquanto vai pondo mercurocromo nas feridas de mercado em andamento, porque vai perder o trunfo nrº 1, Samuel Lino, o lateral-direito Zé Carlos, talvez o ponta de lança Fran Navarro e por aí adiante.
O prémio por esta fase de preparação a jato são mais dois ou quatro jogos em agosto, agora em paralelo com o campeonato e sem dias para treinar.
Até para o tricampeão Sérgio Conceição o vírus das pré-eliminatórias europeias foi complicado, e mesmo fatal.
Apesar de levar todos os anos com o problema, o vizinho Braga ainda não encontrou remédio para evitar que elas adiem a entrada em força no campeonato lá para fins de outubro, quando corre bem. Não sabemos para onde teriam ido certos títulos se algumas das recentes boas equipas do Braga não tivessem de lidar com as pré-eliminatórias, por exemplo.
Num estreante, desprovido de cartão de crédito dourado, a crueldade do "prémio" é ainda maior. O Rio Ave desceu de divisão. Não sendo bem o caso do Gil Vicente, o puzzle atinge a dimensão da insanidade nas novas SAD "comerciais", que vendem primeiro e perguntam se poderão continuar ganhar depois. Foi essa a história do Santa Clara na época passada, que ajudou à ausência de equipas portuguesas na primeira edição desta Conference League (Carlos Júnior foi vendido a meio de uma eliminatória). As esperanças estão na competência do Gil. E é injusto.