A verdade destes quase cinco anos de Sérgio Conceição nos clássicos foi sempre a de ontem: o "racional" treinador do FC Porto incapaz de recuar; os adversários "positivos" incapazes de não o fazer.
Corpo do artigo
Sérgio Conceição merecia uma época invicta, mas os 58 jogos sem derrotas são bastante mais raros, e também não é injusto que tenha sido o Braga a pôr-lhes um final.
Aconteceu porque o treinador do FC Porto, na Pedreira, não jogou para o recorde. Até é possível que nem o campeonato fosse o verdadeiro objetivo anteontem.
Seria fácil, pelo menos mais fácil, esperar pelo Braga, roubar-lhe a estratégia de fechar as portas todas e esperar por aquele contraataque que o FC Porto (com plena consciência disso) permite sempre.
Um ponto permitiria selar o título no Dragão já na jornada seguinte. E aí Sérgio Conceição pode, de facto, queixar-se da "bitaitada" que durante quatro épocas lhe colocou rótulos a ele próprio, do "jogo direto" à suposta incompatibilidade com jogadores dez gramas mais habilidosos do que Marega.
Com Carvalhal sucedeu o contrário. Fizeram-no depressa (ele não; os outros) membro honorário da Irmandade das Rendas de Bilros, indefetível do futebol positivo e oftalmológico (i.e. olhos nos olhos).
A verdade, no entanto, foi sempre a de anteontem à noite na Pedreira: um Sérgio Conceição incapaz de jogar um clássico que seja encolhido lá atrás e tão "inofensivo" no ataque que esse caminho (o ferrolho) é quase sempre o preferido de Sporting, Benfica e Braga para jogarem com ele.
Dos três, nenhum fez melhor, nem mais vezes, do que o poético Carvalhal, não porque esteja a trair princípios, mas por não ser ingénuo. É um treinador e não uma reencarnação de Pablo Neruda em fato de treino. O poeta aqui seria Sérgio, não fosse o detalhe lá de cima: 58 jogos. Como poderia ele atraiçoar a convicção que lhos deu?