Hoje será mais poligamia do que um matrimónio à moda antiga, mas, seja um ou vários, o adjunto será sempre a face oculta do treinador. Nunca saberemos onde começa um e acaba o outro
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Em 2010, quando estudava a complexa sucessão de Jesualdo Ferreira e uma resposta ao furacão Jesus, o FC Porto juntou André Villas-Boas a Vítor Pereira, um ex-treinador da casa escolhido pelas habilidades específicas que pareciam complementar bem as de AVB.
Impressão minha ou não, depois dessa época fulminante, as defesas de Villas-Boas nunca mais pareceram tão robustas e os ataques de Vítor Pereira nunca fizeram as pessoas levantar-se da cadeira. Confirmaram-se treinadores topo de gama, mas diferentes do que eram juntos.
Brian Clough, campeão europeu pelo Nottingham Forest (e superlativo da autoconfiança), assumia-se incapaz de vencer sem o adjunto Peter Taylor. "Eu sou a montra", dizia, "ele é a mercadoria da loja." Sempre que estiveram separados, Clough não triunfou. Sem Clough, Taylor não vingou como treinador principal. Hoje, esses casamentos à moda antiga são mais difíceis.
Numa reunião de preparação de um jogo, impõe-se a poligamia. Os analistas intervêm, o preparador físico tem ambições mais altas, às vezes até nem há um número dois claramente identificado. O "adjunto" vê-se, de repente, em competição para fazer prevalecer as suas opiniões junto do treinador principal. A vida íntima de uma equipa técnica é um dos muitos icebergues submersos do futebol. É também por não podermos conhecê-la que nunca entenderemos a cem por cento aquela pontinha de hora e meia que nos deixam ver uma ou duas vezes por semana. Sendo sempre um mistério, o adjunto torna-se, com frequência, uma lenda.
Nos bastidores, são regularmente alimentados rumores sobre as capacidades deste ou daquele, mas nem todos podem ser o "tradutor" Mourinho. O mundo também precisa de Peter Taylors.