Quem vai a julgamento hoje é a nova geração vinda das elites europeias em proporções nunca vistas. O Portugal-Turquia vai dizer-nos se são bons ou bons de mais
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Em 2016, reinavam Cristiano Ronaldo e Pepe. Mais nenhum jogador daquela seleção pertencia à fina flor da aristocracia europeia. Era uma equipa de plebeus comandada, como diz Sérgio Conceição, por dois animais competitivos.
Em seis anos, os plebeus entraram em extinção. Há onze jogadores mais cotados no mercado do que Ronaldo: uma equipa inteira. Sete desfilam nos clubes mais ricos do mundo e os restantes nas maiores ligas. Sobrevivem cinco do campeonato português.
Nomes como os de Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Diogo Jota, João Cancelo ou João Félix tornaram-se corriqueiros nas primeiras páginas da Imprensa inglesa e espanhola. Não lhes é permitido esquecerem-se de que são estrelas. Quando se atinge esse ponto, pode acontecer que a fome passe ou seja substituída por outros apetites.
A Seleção pode reduzir-se a uma passerelle onde se vem, regularmente, atualizar a glória e a fortuna. Na relva, a indiferença dos holofotes - irrelevante para o operário - passa a chocá-los, por ser tão insuportável como o silêncio do Instagram, mais tarde, no balneário.
Pela importância que carrega, o Portugal-Turquia vai dizer-nos de que género é esta nova seleção, ou melhor, vai confirmar ou desmentir o Portugal-Sérvia aburguesado de novembro. Saberemos se competem juntos, como em tempos, ou apenas entre eles.
Desenganem-se os que pensam que hoje, no Dragão, será julgado um selecionador. Serão julgados os efeitos do excesso de êxito, o caráter de uma nova geração e, principalmente, o legado de Cristiano e Pepe. Ficaremos a saber se, nestes anos de convivência, os colegas escolheram aprender o melhor ou o pior do que eles tinham para ensinar.