São casos comparáveis: pessoas reais, com vidas reais, usadas como adereços baratos em campanhas do pior futebol
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Os insultos (e aplausos...) a João Félix a que ainda ontem o selecionador teve de reagir são, em primeiro lugar, um problema de mau jornalismo, bem esclarecido pela imediata frase de Santos: "Mas aconteceu alguma coisa?" No domingo não aconteceu nada que não se repita, com mais gravidade, em quase todos os contactos com adeptos, e sobretudo nada - a não ser o mau jornalismo - que justifique o escarcéu.
Ainda assim, João Félix é uma vítima real, que comparo a Sérgio Conceição. Na arena dos comentários e remoques, tornou-se um veículo de ataques ao Benfica, sem ter feito nada por isso, para além de jogar à bola, marcar golos e festejar como bem entende. Se há propaganda à volta de Félix, não é ele quem a faz, aliás, acredito que, a partir de certo ponto, nem sequer é o Benfica, mas antes o deslumbramento dos benfiquistas com tempo de antena. Félix e o constante empolamento do feitio de Conceição encaixam ambos na trivialização do hábito de utilizar pessoas reais como bonecos na baixa política do futebol, sem querer saber do que se está a fazer à vida delas.
Numa intervenção recente do secretário de Estado do Desporto, em que ele reduziu (bem) o episódio dos insultos à real dimensão, os árbitros foram mencionados como as grandes vítimas de "atrocidades", mas o que nunca se diz é que estão muito longe de ser as únicas, e que, às vezes, nem são as maiores.