Quem dera que fosse só o ranking da UEFA. De 2016 para cá, a melhor equipa holandesa supera o conjunto das portuguesas no futebol, no mercado, na gestão, nas receitas, na competência...
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A mais cara das equipas portuguesas joga hoje com a mais cara das equipas holandesas. Nas últimas seis épocas, o Benfica consumiu 276 M€ em reforços e o Ajax 241 M€. Não escolhi a meia dúzia à toa. S
ó em 2016 é que o Ajax se juntou à orgia de investimento habitual entre nós, mas com resultados ligeiramente diferentes, até financeiros. Apesar dos incríveis 240 M€ reportados pelo Benfica em 2019, nos últimos três anos os neerlandeses já fizeram mais dinheiro em transferências (373 M€ contra 366 M€), para além de terem sido tricampeões, de terem jogado as meias-finais da Champions e de, ainda nessa janela temporal, terem reconstruído a equipa de calibre europeu que as vendas desfizeram em 2019.
Sem compras megalómanas (a estrela brasileira Antony custou menos cinco milhões do que Everton, e chegou no mesmo mês). Hoje, na Luz, também jogam a Liga Bwin contra a Eredivise pelo ranking da UEFA. Uma fuga do Ajax pesará muito nas contas dos próximos cinco anos, mas o verdadeiro drama é que, ao contrário do costume, esta ultrapassagem dos Países Baixos não terá nada de transitório. Neste momento, o melhor clube neerlandês é mais rico e mais competente do que qualquer clube português em todas as áreas.
Esgotou-se o tempo para administrar multinacionais como se fossem mercearias, acabou-se o espaço para os presidentes com agendas próprias (um Vieira neste Ajax é inimaginável), morreu a presunção de superioridade perpétua no scouting, o mercado de transferências é para todos e a qualidade dos treinadores não será suficiente para repor a diferença. Também aí os outros países não estão parados. Erik ten Hag, o senhor que orienta o Ajax, está uns bons passos à frente do velho estereótipo do treinador holandês poeta, e tem melhor cotação do que qualquer português. Hoje à noite, se o Benfica não fizer um milagre (ou mesmo que o faça, porque será um milagre), não digam só que foram ultrapassados no ranking: foram ultrapassados em tudo.