JOGO FINAL - Uma opinião de Alcides Freire
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Aqui estamos hoje, chegados ao cair do pano de uma Vuelta do nosso contentamento. Sim, que isto de ter um ciclista português a terminar uma das grandes voltas no segundo lugar só pode caber no cantinho do orgulho português. Há espaço para apontar falhas, que nem Jonas Vingegaard é perfeito – deixemos Tadej Pogacar para outras discussões -, razões para desconfiar das pernas de Ayuso e da tática da UAE Emirates aqui e acolá – que de ciclistas de berma de estrada todos temos um pouco -, mas nada pode ser apontado a João Almeida, que nos fez recuperar a paixão pelo ciclismo, modalidade que, entre paredes, vive tempos de enorme dificuldade e ainda está a lamber as feridas de sucessivos casos de doping. E se valer o elogio em causa própria, mérito à coragem de O JOGO e JN, que colocaram na estrada três provas do calendário nacional.
João Almeida ofereceu-nos dias de encanto pelo ciclismo. Numa prova marcada por protestos, ficou-nos o brilho de um português capaz de alimentar o orgulho de um país.
Aqui estamos hoje, também, a ver cair o pano sobre uma Vuelta que serviu de palco a protestos dos ativistas pró-Palestina. Não, tentar derrubar ciclistas da Israel-Premier Tech nunca pode ser uma forma de alertar a sociedade para a gravidade do que se passa em Gaza. Conseguir interromper, afetar e encurtar etapas nas quais centenas de ciclistas deixam sempre o máximo, também não. O que pode ser discutido é se a organização da Vuelta poderia ter evitado a participação de uma equipa “paga” por um multimilionário canadiano que se diz defensor do sionismo, o mesmo que levará essa equipa a chamar-se IPT em duas corridas no Canadá…