O Benfica rebentou com as análises pessimistas e o Braga está a meio caminho de fazer o mesmo, por causa de dois agentes inesperados que fizeram tábua rasa do cadastro das equipas.
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Espalhei-me com o Benfica e com o Braga. Os percursos diziam-me que o Ajax, bem construído, bem treinado e bem lançado, seria de mais para o trauma contínuo do Benfica. E o Mónaco, jogando pouco, tinha, ainda assim, demasiada gente letal para um Braga errático na defesa. Portanto, já não devo chegar a treinador do Liverpool.
O desfecho da eliminatória do Benfica deveu-se a condições diversas, como a presunção do Ajax no primeiro jogo, que por sua vez abriu as portas a um novo Gonçalo Ramos, na segunda parte. Foi com a alma desse Gonçalo (mais as pernas, os pulmões, o fígado, etc.) que o Benfica se bateu, diminuído, com o Vizela, ganhando aí o tal músculo do sacrifício que lhe permitiu, anteontem, aguentar a segunda metade do Ajax, também com a vantagem de poder jogar um futebol simplificado.
No Braga, o fator Ramos chamou-se David Carmo. Bastou um central de 22 anos e pernas compridas para estancar os erros. O Mónaco não encontrou os buracos de que estava à espera (e eu também) e, sem futebol coletivo para cavar outros, já não foram suficientes os talentos caros e dispersos.
Dois jogadores, duas transfusões de alma (deles para as equipas) e um humilde comentador recambiado, com justiça, para a subcave dos apontadores de notícias. Mas, em minha defesa, não há estatística ou método analítico que adivinhem momentos destes.
Gonçalo Ramos era a quinta alternativa do Benfica para o lugar de ponta de lança. Agora, para além de titular nessa posição, ainda acumula com terceiro médio. Quando partiu um pé, David Carmo não era exatamente o Pepe ou o Rúben Dias do Braga. Quem esperaria que, num ano sem jogar, ele crescesse para voltar melhor do que antes? O futebol detesta profetas.