A contratação do treinador Roger Schmidt é apenas o Benfica a juntar-se a um clube que o tem atormentado, pelo menos, desde 2017.
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Já se escoaram quase trinta anos desde que ouvi o treinador galego Fernando Castro Santos lamentar o fraco apetite (na opinião dele) dos jogadores portugueses pelo trabalho.
Discordei na especificidade e abstive-me na generalidade, mas não posso negar que a viragem do século trouxe uma revolução bastante óbvia nessa matéria, a reboque da nova vaga de treinadores.
Depois, veio o tiki-taka e o devaneio de que o físico e a intensidade eram um destino evitável, uma moda passageira que os 8996 passes por jogo do Barcelona matariam rapidamente. Não era. Aliás, mesmo a tese de que o tiki-taka dispensa intensidade e não tem uma dimensão física era (é) mera batota intelectual. Afinal, o físico e a intensidade eram inevitáveis, pelo menos nos adversários, o que torna obrigatório um de dois caminhos: ser como eles ou encontrar formas de contornar essa fatalidade, se a perspetiva de ter jogadores que corram mais, saltem mais e sejam mais resistentes for assim tão repugnante e perniciosa para a pureza do jogo.
Nos últimos anos, este silogismo foi, um pouco, a vida do Benfica, desde o campeonato perdido, em 2017/18, para os armários de Sérgio Conceição (mas, atenção, físico não é forçosamente tamanho nem peso. Essa é mais uma das batotas). O Sporting de Rúben Amorim contribuiu para o debate, porque é ainda mais musculado e desagradável para o adversário (como deve ser). O treinador Roger Schmidt é, no fundo, o Benfica a juntar-se ao clube. Como vimos ainda ontem, na tareia do Liverpool ao Man. United, as notícias de que essa escola leve a mau futebol são manifestamente exageradas. Encontre Schmidt o apetite para o trabalho de que Castro Santos não viu sinais.