Por estranho que pareça, a derrota diz muito bem do Sporting, pelo tempo que demorou a chegar e até pela qualidade de jogo que exigiu ao Santa Clara. Não foi um vencedor qualquer
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Sem uma derrota como a de ontem, o Sporting de Rúben Amorim roçaria o sobrenatural. Percursos como o do último ano e meio são para planteis sumptuosos, não para equipas de recurso que vivem do rasgo de um treinador invulgar.
Será um problema apenas se o Sporting não perceber que este resultado atesta mais o seu êxito do que as suas fraquezas. Não foi uma derrota: foi a primeira derrota com adversários abaixo do seu orçamento, no campeonato. Já tinha acontecido com o Marítimo, mas na Taça de Portugal.
Para um observador treinado, o Sporting é uma façanha. Viveu a época passada sem segundas linhas e está a viver esta com máxima frugalidade, a que só foge Sarabia. Tira dos jogadores muito mais do que seria expectável, e não perdeu contra qualquer adversário.
Esqueçamos a época até aqui: neste jogo, o Santa Clara foi superlativo. Lincoln (que seria uma boa nota dissonante no plantel de Amorim) esteve genial e os açorianos, do meio campo em diante, quase infernais. Foi uma derrota, mas bem paga em talento.
Sérgio Conceição nunca terá a boa Imprensa de Amorim, mas os números defendem-no. Quando diz que não ganhou o suficiente em dez anos como treinador, está certo. Sendo substanciais, os títulos divergem, ainda assim, dos restantes registos e acabam por ajudar os detratores, que dominam uma narrativa injusta.
Desde a Taça de Portugal, perdida nos penáltis pelo Braga, a história também pode contar-se em jogadores potenciados, regularidade, finais atingidas, Ligas dos Campeões brilhantes, campeonatos jogados até ao fim e muitos clássicos de glória (que no FC Porto significam muito). Quando baixamos à terra e olhamos apenas os factos, é complicado repudiar Sérgio Conceição.