O melhor que aconteceu ao árbitro no Braga-FC Porto foram as reações portistas no relvado. Até isso ajuda na superproteção que rouba aos árbitros a autoconsciência
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Os comentários que o árbitro Hugo Miguel fez a jogadores do FC Porto na última jornada, considerados insultuosos por Sérgio Conceição, sofrem do detalhe de estarem errados. Penálti ou não, Taremi foi mesmo pisado no calcanhar, e há um ano, em Moreira de Cónegos, Francisco Conceição não se atirou para o chão. A falta, que Hugo Miguel foi acusado de sonegar, pode nem ter existido, mas o jogador cai porque é carregado por um adversário muito maior do que ele (Abdu Conté), seja essa carga legal ou não.
Por cima de todas estas barreiras, como um colete à prova de balas, estão os maiores protetores dos árbitros, que são os treinadores e dirigentes. O melhor que podia ter acontecido a Hugo Miguel, no fim do Braga-FC Porto, era o sangue quente de Luís Gonçalves, Sérgio Conceição e demais portistas indignados.
O árbitro demonstrou, com as duas intervenções, que se deixa influenciar por preconceitos e que desconhece o seu próprio trabalho. Isso acontece porque, ao contrário do que nos vem sendo dito com insistência, os árbitros de I Liga são superprotegidos, e bem, até certo ponto. Há umas diferenças no impacto mediático dos erros, consoante a popularidade nas tevês do clube grande que estiver envolvido, mas até esse conflito lhes é favorável, porque quando um deles os ataca, os outros dois defendem-nos. Depois, instalada a nova classe dos peritos de arbitragem, temos uma segunda camada protetora que racionaliza e minimiza os erros, e, finalmente, existe a coligação APAF/Conselho de Arbitragem, uma espécie de lápis azul a qualquer tipo de crítica.
Por cima de todas estas barreiras, como um colete à prova de balas, estão os maiores protetores dos árbitros, que são os treinadores e dirigentes. O melhor que podia ter acontecido a Hugo Miguel, no fim do Braga-FC Porto, era o sangue quente de Luís Gonçalves, Sérgio Conceição e demais portistas indignados. À semelhança de tantas outras ocasiões, a fúria deles passou a ser o tema (na verdade, é tema contínuo já há cinco anos), em vez do erro de arbitragem que queriam discutir, e que devia ter sido discutido esta semana. Quase nunca falha, e há mesmo um sistema de autodefesa dos árbitros com base, precisamente, nas reações desproporcionadas dos clubes. De tudo isto resulta o que está na origem dos comentários de Hugo Miguel: uma total ausência de autocrítica e de autoconsciência na generalidade dos árbitros. Até Hugo Miguel, autor e coautor de vários disparates cujas imagens viajaram pelo mundo todo.