Poucos clássicos acabaram sem expulsões nos últimos dois anos, e por regra sem motivo para isso, mas começa a haver sinais de um excesso de malícia calculada que ameaça este FC Porto-Sporting
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O principal fator de imprevisibilidade no FC Porto-Sporting de amanhã reside nos cartões do árbitro e num certo clima bélico que vai crescendo a cada edição deste clássico em particular. Pode ser a tempestade perfeita, que aliás já podia ter sucedido na final da Taça da Liga se Manuel Mota não tivesse decidido conter-se heroicamente.
Os clássicos em Portugal são uma aberração estatística. Nos últimos anos, poucos acabaram sem expulsões e vários tiveram cartões vermelhos ainda na primeira parte, embora o fenómeno seja mais cliente dos jogos entre FC Porto e Benfica.
Por regra, o motivo foi simples exibicionismo do árbitro sob os holofotes de um grande palco, mas isso só agrava os medos. Se os jogos foram estragados quando no campo não se passava nada de especial, o risco dispara quando as equipas acreditam que precisam de mostrar os pítons, de agarrar, de fazer um drama em todas as faltas ou de criar artificialmente conflitos que desconcentrem o adversário e assassinem o jogo, minuto esgotado a minuto esgotado. Não é um problema de catecismo.
Adianta pouco a uma equipa ajudar velhinhas a atravessar a rua, respeitar os dez mandamentos e dar os bons dias a toda a gente se depois chega ao relvado impreparada para as intimidações do adversário, que se está a borrifar para a santidade alheia.
Vimos uma demonstração dessa crua realidade no FC Porto-Atlético de Madrid de dezembro, e é por isto, e não por penáltis e foras de jogo, que uns árbitros são melhores do que os outros. O trabalho deles é defender o jogo (que o pagador de bilhete e assinatura televisiva quer ver inteiro) sem deixar de traçar um limite à guerra de intimidação que visa tornar a experiência daqueles 90 minutos o mais desagradável possível para o adversário.
Fiquei a admirar Manuel Mota, mas, tal como não aprecio expulsões, também não gostei do que vi no Benfica-Sporting. É o dilema de sexta-feira à noite.