É saudável (e javardo) da parte de um diplomata de carreira chamar javardo a um treinador de futebol. Nada a dizer
Corpo do artigo
Ler o sr. Ex-embaixador Seixas da Costa chamar javardo a Sérgio Conceição faz-me pensar nos livros de etiqueta da Paula Bobone, em jantares de cerimónia com quinhentos talheres, em manicura masculina, em bailes de debutantes e em alienígenas de sapatos de vela que tratam as crianças por você. Já escrevi isto duas vezes, uma quando Scolari deu um sopapo no sérvio Dragutinovic e outra a propósito dos modos de Jorge Jesus: pratiquei desporto federado mais de dezasseis anos e fui javardo, ou lá o que for, demasiadas vezes (e de demasiadas formas) para poder condenar outros.
O futebol não tende a nascer em colégios francoalemães, no intervalo das aulas de piano e das explicações de grego antigo, nem o relvado é uma sala de reuniões oitocentista em que os residentes aprenderam, de berço, a mandar o interlocutor ao raio que o parta de mil maneiras imaculadamente polidas. O hipócrita é sempre um diplomata amador. No futebol, lá dentro, não há mesuras ou rapapés. Por outro lado, é bastante javardo da parte do sr. Embaixador chamar javardo a outra pessoa utilizando um termo que foge, ele próprio, um nadinha para o javardo. Podia ter dito que Sérgio Conceição exibe a admirável urbanidade de um Átila em Arcadiopolis, por exemplo, mas não, teve a dignidade (e a javardice) de contrariar a sua formação para escrever o que pensa sem um dicionário inteiro de camuflagem por cima. Exatamente como Sérgio Conceição faria.
Acho que podíamos ser amigos os três e combinar uma noite de javardagem para uma destas semanas, se o sr. Embaixador não ficar repugnado com o estado miserável das minhas cutículas, nem com o meu lapso de encher sempre o copo maior.