TEORIAS DO CAOS - Opinião de José Manuel Ribeiro
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1 - As reações à transferência de Francisco Conceição para o Ajax são aquilo a que se chama uma profecia auto executada. Acredito que sair da sombra do pai não tenha sido o principal motivo da decisão. Para um miúdo que fez 763 minutos pelo FC Porto em 21/22, ouvir do treinador do Ajax que quer preencher com ele, precisamente ele, a vaga de um dos melhores extremos do mundo (o brasileiro Antony) deve ser suficiente.
No global, o FC Porto e os portistas sabem é que se perdeu valor desportivo e financeiro e que este não pode ser o padrão do futuro
Mas sim, ser treinado pelo pai pode ser uma limitação de várias maneiras diferentes, no balneário, na praça pública (onde se lhe catava cada trejeito para confirmar a ascendência), ou até na arbitragem, pelo menos na perceção do jogador, para não me meter em impressões clubísticas.
A prova de que, se pensou assim, Francisco tinha razão está no imediato comentário do chefe dos Superdragões: "Filho meu nunca prejudicaria o FC Porto." Logo aí residiria uma diferença de direitos entre Francisco e qualquer outro jogador com cláusulas, como Vitinha, que fez o mesmo há poucas semanas e não foi privilegiado dessa forma por Fernando Madureira.
2 - O outro ponto de vista, acima dos detalhes específicos de cada caso, é o da tempestade perfeita que se vive nos negócios do FC Porto e que os adeptos têm legitimidade para questionar, desde que usem melhores argumentos do que Madureira. Saída a saída, todas podem ter, e provavelmente têm, uma boa explicação.
Luis Díaz foi vendido abaixo do preço porque a herança do fair-play financeiro obrigava o FC Porto a vender e mais nenhuma transferência fora possível até aí. Mbemba partiu a custo zero e a pedir um salário incomportável. Vitinha saiu pela cláusula de rescisão, ainda que com termos negociados por se estar em cima do fecho do exercício 21/22 e com prejuízo iminente. João Víctor perdeu-se porque o Benfica entrou em campo com números para lá do limite estipulado para a negociação. Sérgio Oliveira só renovara contrato para poder valer algum dinheiro ao FC Porto, acabando por esgotar todas as possibilidades de mercado até chegar o Galatasaray. E Francisco sai por ter direito à maioridade e a tomar decisões próprias.
Mas, no global, o FC Porto e os portistas sabem é que se perdeu valor desportivo e financeiro e que este não pode ser o padrão do futuro. Sendo exceções, percebem-se todas; sendo regra, não há qualquer hipótese disso.
Se há aqui um denominador comum, em pelo menos quatro dos seis casos relatados, são os salários e esse é um problema com que todos os grandes clubes periféricos da Europa têm de aprender a lidar. Neste momento, e independentemente das tais especificidades de cada caso, não há dúvida de que o FC Porto está a sair-se pior do que Benfica e Sporting.