O Benfica, o futebol e o resto do planeta já estão fora do alcance de um homenzinho armado de calculadora. Mais ou menos como a arbitragem começa a ser um mistério para os não iniciados
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Décadas de pestanas queimadas a ler notícias sobre auditorias, internas e externas, fizeram de mim um incréu quanto aos poderes de esclarecimento que elas têm.
O cenário piora quando se lhes pede que avaliem uma "indústria" sem regras em que o normal é a anormalidade. Uma comissão de 40%, por exemplo, valeria o quê numa auditoria? Ou, imaginemos, o papel de Paulo Gonçalves em transferências nas quais não representaria, aparentemente, nem o vendedor, nem o comprador?
O futebol, não apenas o Benfica, mora para além do alcance das auditorias, e estou a ser injusto por circunscrever tanto esta leitura, porque estamos no país em que o presidente de um banco pode receber um presente de 14 M€ de um cliente sem que isso sequer desperte alarmes, apesar dos auditores em cada esquina.
A nova vida do Benfica, que é a nova vida de que todos os clubes precisam, não depende, infelizmente, de um contabilista pós-graduado em Harvard com uma calculadora na mão.
O árbitro da final da Liga das Nações considerou uma tentativa de corte, em carrinho, de um defesa da seleção espanhola como um toque deliberado (é o que diz a regra) para Mbappé. Em aparente posição irregular, que o dito toque "deliberado" anula, o francês disparou para o golo decisivo.
É o milésimo exemplo de como a arbitragem internacional, tomada por tecnocratas, está ao nível do cantonês, ou mesmo dos hieróglifos egípcios, até para o profissional mais sabedor que se possa imaginar. A existência do VAR, ou seja, de um segundo árbitro que valida a interpretação do primeiro, piora tudo, por dar a entender que, como vai sendo costume, há uma instrução secreta qualquer que explica a decisão.
Os regimes com demasiadas leis não escritas têm um nome e não é simpático.