O mito das "remontadas" do Real Madrid eterniza-se sempre que se contam as façanhas do "espiritu de Juanito". E o mito do FC Porto irredutível na Luz tem a mesma sorte, graças à visão sábia de Vieira
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As "remontadas" do Real Madrid ficaram atreladas a Juanito ("El espiritu de Juanito"), um avançado vulcânico dos finais dos anos 1970/inícios de 80, mas a tradição começou um pouco antes, em 1975/76, quando os madrilenos viraram uma primeira mão terrível frente ao Derby County (4-1) com uma "manita" (5-0) em casa.
Seguiram-se várias outras que engordaram o mito, hoje já impossível de desentranhar do Bernabéu, e que, por razões que emudecem a ciência, continuam a conduzir a piruetas épicas como a de ontem com o Manchester City.
O FC Porto será o clube, dos grandes portugueses, mais propenso a tradições do género, como o golo de Kelvin em 2013, que ajudou muito a refrescar a imagem de irredutibilidade portista. Mas convenhamos, numa revolução que começou também nos finais dos anos 1970 com a premissa de que o FC Porto já começava a perder 1-0 mal passava a ponte da Arrábida para ir jogar a Lisboa, as vitórias no Estádio da Luz foram um combustível incomparável.
No entanto, se, em 2013, Jesus contribuiu involuntariamente para agigantar o mito de Kelvin ao ajoelhar, derrotado, na relva do Dragão, dois anos antes fora de plena consciência que a presidência Vieira dera aos portistas um dos melhores presentes da sua história, ao apagar a luz e ligar os aspersores de rega para perturbar a festa do adversário campeão.
Tal como Juanito passou a ser a narrativa que permite recontar, e assim eternizar, a lenda das "remontadas", a Luz apagada tornou-se a anedota que, contada uma e outra vez, recorda ao FC Porto a identidade que construiu e ao Benfica a dor da sua casa violada.
A frase famosa de Juanito, dita aos jogadores do Inter num italiano martelado ("90 minuti nel Bernabéu sono molto longo") é curta para definir o erro de Vieira nessa noite. Há jogos que podem durar muitos anos.