O FC Porto do século XXI ganha ainda mais do que nos últimos 22 anos do século XX. Mas só nos estádios e pavilhões. Fora deles continua a ser uma presa demasiado fácil.
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Ok, o FC Porto rechaçou por uns tempos valentes as conversas da hegemonia benfiquista; fez estacar o Sporting mais convincente dos últimos 20 anos (pelo menos); refrescou a reputação de clube formador, e até disfarçou os bolsos rotos.
Por cima disso, as primeiras 22 épocas do século XXI estão a ser bastante melhores do que as últimas do século XX: 12 campeonatos contra 11, oito taças contra seis, quatro títulos internacionais contra dois. E agora?
Agora falta ao FC Porto de Pinto da Costa reunir adeptos numa proporção mais próxima da supremacia desportiva que mantém. Não é um debate simples. Tirando um estudo da Liga, já com décadas (e apesar da prosápia infantil dos clubes), não existem números confiáveis sobre a repartição dos adeptos, mas devemos supor que trinta anos, pelo menos, de constante propaganda negativa condicionaram o crescimento do clube. Pela positiva, o FC Porto só tem garantia de se impor nos relvados e pavilhões. O restante é uma coleção de batalhas mediáticas perdidas, às quais a doutrina Pinto da Costa reage sempre com a indiferença esperada por quem conhece os portuenses. Nunca dará aos seus as lições de moral exigidas pelos outros, não sacrificará o mais raso dos soldados (seja qual for o seu pecado) à fogueira das indignações alheias, e também nunca deixará de sentir prazer nessa resistência à etiqueta da corte.
Uma grande parte dos portistas gosta disso, outra preferiria uma vida menos embaraçosa, mais próxima do sossego da Foz do que da agitação do Bairro do Cerco, mas a cidade jorra das duas fontes e Pinto da Costa sabe que, nas horas de aperto, o FC Porto conta mais com as camisolas de alças da Ribeira do que com os pulôveres do Campo Alegre. Como os bairros (e a pobreza) não irão embora tão cedo, e ninguém no Dragão se rebaixará a distribuir manuais de boas maneiras pelos gabinetes, mantêm-se o desafio: quando deixará o FC Porto de ser uma presa tão fácil fora do campo?