O FC Porto ouviu do Lyon a verdade que não podia ouvir do Paços de Ferreira, e a verdade que o Sporting escutou do City talvez não pudesse ouvir em mais lado nenhum. Felizmente, sabia disso.
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A Europa é o mundo real das equipas como FC Porto e Sporting. A Liga portuguesa não passa de uma simulação muito realista, mas sem significado se não conduzir a jogos com o Lyon e o Manchester City, que nos digam algumas verdades.
O Paços de Ferreira (2-4) talvez tenha sido verdadeiro sobre o FC Porto interno, mas sobre o FC Porto externo só podia deturpar os factos, que o Lyon repôs ontem à noite.
Acredito que a Liga dos Campeões (sobretudo), onde Sérgio Conceição sempre se esforçou por passar o mais tempo possível, ajudou a montar esta equipa e a dar-lhe a cultura que Rúben Amorim admite procurar para o Sporting. Se ontem, pensando (não sem racionalidade) no campeonato e na Taça, Conceição tivesse usado menos munições do que podia, estaria a trair a cultura. Cultura essa que é, para não parecer pretensioso, apenas a mentalidade coletiva dos jogadores, em concreto a capacidade que terão, ou não, para responder a exigências cada vez mais altas. Essas exigências não existem cá dentro, ou existirão três ou quatro vezes por ano, com sorte.
Como sabemos, nem os clássicos são garantia de intensidade. Assumindo que isto é pura especulação, não consigo separar o vaivém do Benfica, nestes anos, das épocas de desistência europeia e de "gestão" para ganhar cá dentro, que foram ensinando ao balneário apenas isto: há jogos negociáveis. Caso Amorim tivesse usado ontem, em Manchester, um primeiro onze de miúdos e suplentes, estaria a passar a mesma mensagem aos jogadores; a dizer-lhes que, às vezes, não faz mal entrar em campo para perder. Ontem, sem qualquer vitória, o dia foi bom, porque a vitória não se pode prometer, mas a competitividade a alto nível pode e deve prometer-se. E esteve nos dois jogos.