TEORIAS DO CAOS - Opinião de José Manuel Ribeiro
Corpo do artigo
Sem ninguém ter reparado (que eu tenha visto), a República sofreu um acesso de benficopatia diabética esta semana. É uma doença ocular que funciona como reverso da medalha quando o ambiente mediático se vicia no açúcar das audiências.
Nos ciclos depressivos, a ingestão excessiva de benfiquismo cega o analista e expele o adepto. Depois do Bayern-Benfica (5-2), o que este queria eram as madeixas de Jorge Jesus, cabeça incluída, por todos os meios, nem que fosse o mais duvidoso: a relação com o plantel, da qual nunca saberemos o suficiente para julgar, apesar de nos fartarmos de insistir *.
Jesus anda por maus caminhos? Talvez. Mas duas sessões de baile com o Bayern (0-4 e 5-2), mais outro do FC Porto com o Liverpool (1-5) e todo o histórico das últimas quatro ou cinco épocas obrigam a pensar acima do Benfica. No "El País", até Jorge Valdano pega no tímido 2-0 do Liverpool ao Atlético de Madrid para questionar o sentido da vida, dele e dos espanhóis. "Se a equipa mais intensa da nossa Liga é subjugada a este ponto", escreve, "chegou o momento de nos pormos a pensar.
Começando por reconhecer que, aos futebolistas espanhóis, vai custar alcançar a qualidade atlética que mostram o futebol inglês, alemão ou francês." O Benfica não será a equipa mais intensa da Liga portuguesa, mas é uma das melhores e com certeza a mais onerosa, dirigida pelo treinador mais caro, mais experiente e talvez também o mais estudado pelos jovens técnicos do campeonato. Quem, por cá, levantou a mesma dúvida que Valdano? Aparentemente, as distâncias para o futebol de primeiro mundo desaparecerão no instante em que as melenas de Jesus tocarem o fundo do cesto.
Também gostamos de fingir que é só filosofia. Se acreditarmos muito nisso, as equipas inglesas, alemãs e francesas não vão continuar a crescer (onde interessa, atenção), a pesar mais e a ser cada vez mais velozes e resistentes, toquem elas violino ou trombone. A realidade vem-se borrifando para essas teorias como as cataratas do Iguaçu para os turistas. Quanto a Jesus, não foi o Bayern-Benfica a fazer dele um problema nesta matéria (ou noutras). Já o era quando os benfiquistas e a agenda mediática o aplaudiam por sacrificar a rodagem na Europa para ganhar uma parca vantagem no circunscrito campeonato interno.
* Sugiro que os fervorosos da liderança zen nunca queiram saber quem foram os líderes mais eficazes da história, nem leiam biografias de simpaticões como Churchill ou Steve Jobs. Nunca mais pregam olho. O drama da liderança é que a palavra subordinança ainda nem foi inventada.