Em 2018, Kobe Bryant falou em exclusivo a O JOGO: "Agora basta-me ver basquetebol e ser pai"
Lenda do desporto mundial, Kobe Bryant, de 41 anos, morreu no domingo de forma trágica, tal como uma das filhas, Gianna Bryant (13 anos), vítimas de um acidente de helicóptero.
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A última entrevista da antiga glória dos Lakers a um jornal português foi a O JOGO, em março de 2018. Na altura, contou como estava a viver o pós-retirada e como desejava ver a equipa de Los Angeles de novo na rota dos títulos. Adepto de futebol, em particular do Barcelona, também se mostrava rendido ao percurso de Cristiano Ronaldo e ao momento em que chorou na final do Euro'2016. Pode rever a entrevista abaixo na íntegra.
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Kobe Bryant retirou-se após a época de 2016 e, entretanto, escreveu e produziu "Dear Basketball", que lhe valeu um Óscar pela melhor curta-metragem de animação, prémio que considerou mais importante do que um título da NBA. É casado, tem três filhas, Natalia, Gianna e Vanessa [já depois desta entrevista nasceu a quarta, Capri Bryant], e uma fortuna estimada em mais de 285 milhões de euros. E fala de coração aberto sobre o final de carreira.
Está reformado desde 2016. Como ocupa o tempo depois de 20 anos na NBA?
-Tento ocupar-me como posso! [risos] Tenho, pela primeira vez, tempo para coisas diferentes das da vida de jogador, que é basicamente treinar, comer, descansar, jogar e dormir em hotéis. Agora posso dedicar-me a outros projetos, como a produção de filmes e documentários, passar tempo nos meus negócios, mas também, o que é muito importante para mim, ser um pai para as minhas filhas. Parece simples e básico, mas ver jogos de basquetebol ou as aulas de dança das minhas "princesas" é algo de que gosto muito. Vivo outra vida e aproveito para fazer o que não podia durante os longos anos na NBA.
Sente a falta de jogar, tem saudades da camisola dos Lakers?
- Sim, em algumas coisas, e não, em outras [risos]. Por exemplo, não tenho saudades da vida nos aviões, nos hotéis ou de ir para a cama às três da manhã, para acordar às nove e ir treinar! Sinto saudades da competitividade e dos jogos, dos fãs e do apoio que tinha quando jogava. Tive uma carreira fantástica, ganhei muito dinheiro e títulos, sinto-me feliz e orgulhoso com o que fiz. Nas primeiras semanas depois de ter deixado de jogar sentia uma falta, havia uma ausência, uma saudade da vida de joga dor. Depois adaptei-me e sei que tomei a melhor decisão. Os meus dois últimos anos foram muitos cansativos fisicamente e já não era tão jovem. Por isso, não podia fazer tudo o que queria em campo. Hoje, sinto-me feliz. Sou ambicioso como sempre, mesmo já não sendo a marcar pontos ou a defender adversários!
Olhando para as suas páginas nas redes sociais, percebe-se que ainda segue de perto o que se passa na NBA...
- Claro que sim! O basquetebol é a minha vida; mesmo deixando de jogar, sigo de perto o que acontece na NBA e no mundo do basquetebol. Ainda estou em contacto com muitos jogadores e quando posso tento ajudar alguns. Por exemplo, falei com o DeMarcus Cousins há pouco tempo, para o ajudar depois da sua grave lesão no tendão de Aquiles. Tive a mesma lesão, por isso, podendo aconselhar jogadores na recuperação física, entro em contacto com eles. Também falo com outros sobre jogos, sobre a progressão geral do nível de jogo e mais algumas coisas. Mas não vou dar nomes! Vejo muitos jogos e tento analisar o que acontece na liga. Isso nunca mudará, gosto demasiado deste desporto e da NBA.
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"FIQUEI FELIZ AO VER O CRISTIANO CHORAR APÓS A VITÓRIA NO EURO"
Que recorda dos anos que viveu na Europa?
-Passei grandes momentos em Itália. Era muito jovem, mas aprendi sobre a vida, o desporto e a paixão dos italianos pelo futebol. Era um miúdo vindo dos "States", que não conhecia nada. Aprendi e cresci muito nesses anos. Ainda falo muitas vezes com as minhas filhas em italiano; aliás, parte do meu coração é italiano. Vivia com muitas crianças, apaixonei-me pelo desporto e pelo futebol. Comecei a seguir a Serie A, mas especialmente o AC Milan, porque lá jogava o Marco Van Basten. Adorava-o, que craque!
Chegou a jogar futebol?
- Naturalmente, jogava à bola com os amigos; como já era um miúdo grande, punham-me na baliza. Não queria, só queria fazer golos como o Van Basten! Mas nunca perderei a paixão pelo futebol.
Continua a ver futebol?
- Sigo, e vejo mais jogos agora do que durante os anos da minha carreira. Gosto da Premier League, da Serie A e da Liga espanhola. Sigo o Pep em Inglaterra, onde está a fazer uma temporada enorme; ele pode ganhar o título inglês e a Liga dos Campeões. Mas sigo também o novo AC Milan, que está a ficar mais competitivo. Claro que vejo jogos do Barça, é quase obrigatório [sorri] É interessante ver como as equipas de topo estão a elevar o nível de jogo nesta altura do ano. Como o Real Madrid, por exemplo. Toda a gente pensava que estavam fora da corrida a títulos depois de meses complicados, mas ainda estão na Champions League e podem chegar à terceira seguida. As grandes equipas e os grandes campeões regressam sempre ao seu melhor.
Você é sobretudo conhecido como fã do Barcelona...
- Gosto do Barça por causa do meu amigo Ronaldinho e do genial Leo Messi. Eles jogam a um nível excecional há quase dez anos; adoro vê-los. Quando o Ronnie jogava, ficava louco em frente à televisão. Que artista, que génio! É o tipo de jogador que me faz amar o futebol. Ao falar dele, recordo logo algumas jogadas [faz gestos com as mãos]. O Leo também é um artista, ganhou quase tudo, só lhe falta um título com a seleção, um Mundial. Esses futebolistas marcam a história. Quando vejo os blaugrana, dou comigo aos saltos no sofá. O futebol dá emoções como poucos desportos. É espetacular, falo a sério!
Sendo amigo e adepto do Leo Messi, o que pensa do Cristiano Ronaldo?
- É evidente que gosto mais do Leo, mas sou fã de futebol, por isso gosto de ver grandes futebolistas, como é o CR7. Tenho um imenso respeito pelo Cristiano e pela grande carreira que está a fazer. Ele tem muito talento, mas também é um trabalhador e ambicioso nato; é um exemplo para milhões de pessoas. Ele quer ganhar, sempre!
Admira-o por isso?
- Acho extraordinário o que fez até agora, ganhar todas essas Ligas dos Campeões, todas esses títulos nacionais, mas também o Euro"2016. Sentia-se que ele queria empurrar, queria levar Portugal até ao teto da Europa e do mundo. Isso é muito lindo.
Então viu essa final?...
-... Quando ele chorou depois do apito final, nesse jogo com a França, fiquei muito feliz por ele. Que grande campeão! Ele coloca a alma e o corpo no campo e só aceita a vitória. É um enorme competidor, um campeão extraordinário. Já joga há muitos anos a esse nível, é um grande atleta e uns dos melhores jogadores da história do futebol. Tenho a certeza absoluta.
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"Acredito num futuro risonho dos Lakers"
Campeões pela última vez em 2010, com Kobe Bryant, e sem marcar presença no play-off desde 2013, os Lakers procuram regressar aos títulos, tendo agora LeBron James e Anthony Davis nas suas fileiras. Em março de 2018, a O JOGO, "The Black Mamba" fazia um ponto de situação da equipa de Los Angeles. "Os Lakers precisam de ter uma equipa competitiva em breve, e estamos no bom caminho. Claro que isso não se consegue em um ou dois anos, mas eles vão fazê-lo. A base de trabalho é boa, as ambições são altas e acredito num futuro risonho. Amo essa franquia e fiz parte de uma das melhores equipas de todos os tempos. A história de uma franquia é sempre feita de altos e baixos, mas acredito que estes dois ou três anos menos bons irão ser úteis para o futuro", defendeu.